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ESTAR PRESENTE

Bilhete para o Amigo Ausente Lembrar teus carinhos induz a ter existido um pomar intangíveis laranjas de luz laranjas que apetece roubar. Teu luar de ontem na cintura é ainda o vestido que trago seda imaterial seda pura de criança afogada no lago. Os motores que entre nós aceleram os vazios comboios do sonho das mulheres que estão à espera são o único luto que ponho. Natália Correia, in "O Vinho e a Lira" O meu comentário??? S e a tua ausência me marca... Nunca deixarás de estar presente... Não me esvazias os sonhos... . ...nem me visto de luto.. . Vivo com teu carinho, no teu riso.... Até eu própria deixar de estar presente...

FATAL

Saudade Saudade já saudade antes saudade amor de te não ver porque pressinto se sinto que te ter é não saber distância já agora e que não minto Amor de que me calo e te não digo amor já saudade já instinto Maria Teresa Horta (Livro "Poesia Reunida) O meu comentário??? O instinto que previne... O instinto que se ignora... Fatal.... no silêncio em que nos mergulha a saudade... Porque ninguém mente.... Ao acabar o amor no calor... Do dia que se derrete na noite e a torna nossa inimiga... Porque não se disse??? Regressamos ao medo e à saudade....

QUEM TU ÉS

PRESENÇA É preciso que a saudade desenhe tuas linhas perfeitas, teu perfil exato e que, apenas, levemente, o vento das horas ponha um frêmito em teus cabelos... É preciso que a tua ausência trescale sutilmente, no ar, a trevo machucado, as folhas de alecrim desde há muito guardadas não se sabe por quem nalgum móvel antigo... Mas é preciso, também, que seja como abrir uma janela e respirar-te, azul e luminosa, no ar. É preciso a saudade para eu sentir como sinto - em mim - a presença misteriosa da vida... Mas quando surges és tão outra e múltipla e imprevista que nunca te pareces com o teu retrato... E eu tenho de fechar meus olhos para ver-te. Mário Quintana O meu comentário??? Abrir a janela e conversar com o vento.... Porque sabe quem tu és... É capaz de te descrever melhor do que eu - as tuas virtudes, os teus defeitos... Porque não te amou tanto como eu.... E as saudades nada lhe dizem... Porque eu continuo presente no ciclo de vida em que ele se arrasta..

ENQUANTO ESCREVO

SAUDADE A saudade me aperta Em mim tão docemente Minha alma de engano Nesta paz aberta, Com este meu mal contente Que me causa tanto dano; Neste papel a desabafar-me... Nos teus olhos preso Esta vida que mal me atrevo Continuou a enganar-me Saudade vai-te embora, te peço Pelo menos enquanto escrevo. Frankelim Gomes Amaral (Livro "II Antologia de Poetas Lusófonos) O meu comentário??? Enquanto escrevo... Engano-me... Por entre palavras rebuscadas e que os outros não entendem.. É tudo o que a minha alma consegue dizer.. Pois sou um prisioneiro, a quem a saudade nega os direitos mais fundamentais... Ver-te, sentir-te, amar-te...

AMPULHETA

Tempo Tempo — definição da angústia. Pudesse ao menos eu agrilhoar-te Ao coração pulsátil dum poema! Era o devir eterno em harmonia. Mas foges das vogais, como a frescura Da tinta com que escrevo. Fica apenas a tua negra sombra: — O passado, Amargura maior, fotografada. Tempo... E não haver nada, Ninguém, Uma alma penada Que estrangule a ampulheta duma vez! Que realize o crime e a perfeição De cortar aquele fio movediço De areia Que nenhum tecelão É capaz de tecer na sua teia! Miguel Torga, in 'Cântico do Homem' O meu comentário??? Escapa-se... O tempo não perdoa e canta... Alegremente, com certezas, sem diplomacia.. Pode oferecer conselhos, mas é rude.. Afinal, para quê perder tempo em ser educado??? Sobrevive a tudo.. À ampulheta que parte, ao tear que enferruja, à tapeçaria que perde as cores.. Uma luta desigual? O tempo que a areia leva a desaparecer da nossa mão....

DESTROÇOS

O Tempo Vive O tempo vive, quando os homens, nele, se esquecem de si mesmos, ficando, embora, a contemplar o estreme reduto de estar sendo. O tempo vive a refrescar a sede dos animais e do vento, quando a estrutura estremece a dura escuridão que, desde dentro, irrompe. E fica com o uivo agreste espantando o seu estrondo de silêncio. Fernando Echevarría, in "Sobre os Mortos" O meu comentário??? O tempo permanece.. Ás vezes, tão quieto que não o sentimos. E de repente, deixa-nos na escuridão. Numa vida muito solitária, em que nada conta. Porque o tempo tomou conta de tudo e até da nossa memória, apagou a voz. Não sei o que acontece quando passamos a fronteira. Não sei o que deixamos para trás. O tempo refrescou tudo, abrindo a porta ao mar, sepultando na areia destroços.

ACENO TROCISTA

rabiscos mudos o poeta é a obra manobra do vento talento que sobra destino ou tormento o sonho que anuncia o alvorecer do dia re.nasce à sangria fruto mestria a fama elouquece o tarso sustento a galope o tempo é inimigo do tempo ousasse a melancolia ser em mim euforia a trote re.inventaria todos os dias num só dia Poema enviado por Paulo (Blog Intemporal) - em resposta ao desafio do post anterior O meu comentário??? Reinventar... Não sei o que reinventaria.. Desperdiçar um momento.... Há muito que aprendi que não devo lamentar os momentos que perdi... Sonhar com os que posso ainda ter... Sim, sempre... Com UMA força que desconheço em mim... Para esquecer essa monotonia que me acena trocista, mas que acredit o que vencerei....