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NADA

FIM O fim. Tudo tem fim, nada é eterno. O início, tal como o fim. O nada. Onde tudo começa. Onde tudo acaba. No fim não se pensa. Fecha-se s olhos e acontece. Mesmo sem querermos. Ele vem, rápido e frio. Depois começa-se tudo de novo. Do nada, para acabar tudo onde se começou. Sem nada! João Costa Ferreira (Livro "II Antologia de Poetas Lusófonos") O meu comentário??? Simples de escrever... Nada é simples de escrever... Porque a palavra pinta-se, disfarça-se... Encanta-nos de maneiras diferentes.... Posso pensar que a estou a dominar... e no final, ter escrito o que ela quis que eu escrevesse.. Não estou a escrever sobre o nada, sobre o fim... Escrevo sempre sobre o começo, o recomeço... Nas diversas vertentes da palavra...

TEMER

A HORA MAIS EXACTA Imagens que voltavam devagar, se encostavam a ela sem pudor. E no silêncio, a esfinge impenetrável, sabendo-lhe de cor o coração: desistente dos barcos, depondo pelo chão de outros palácios as armas mais preciosas. “Não posso”, acrescentara sentindo aproximar-se a hora exacta. de Ana Luisa Amaral O meu comentário??? A hora exacta para quê??? Desistir da vida, por não se ter encontrado o tal palácio... Aquele sobre o qual se lê nas histórias de crianças... Os reinos de fantasias que ficam sempre escondidos no coração.. Talvez porque a realidade é exactamente o oposto... Não há horas exactas... Há apenas horas.... As felizes quando as conseguimos partilhar... As amargas quando desabamos e somos confrontadas com uma solidão que tememos...

ESCRITA NO OLHAR

Poema E que o mar se levante em pranto... E que o sol fique pálido e branco... Que o vento estremeça de espanto Vou querer-te em meus braços enquanto Os teus braços me sirvam de manto... de Piedade Barbedo (Livro "II Antologia de Poetas Lusófonos) O meu comentário??? Os meus braços... parecem-me vazios, às vezes.. Escondo as lágrimas nos cantos... Com a tua ausência escrita no olhar... Não tenho medo do mar... Sinto-me em paz quando o vejo.... Se juntar o meu pranto ao dele.... Se quem me abraça é o vento... Sinto um estranho conforto e olho em frente...

AMAR E MAR

Beijo pouco, falo menos ainda. Mas invento palavras Que traduzem a ternura mais funda E mais cotidiana. Inventei, por exemplo, o verbo teadorar. Intransitivo: Teadoro, Teodora. Neologismo de Manuel Bandeira O meu comentário??? Não posso inventar um verbo com o meu nome... Ou talvez possa, se trocar as letras... Traduzir o meu nome no verbo " Amar"... Simplesmente "Mar" ou " rara"... Porque falar, eu falo pouco... Beijar.... beijo-te muito..... Com ternura. Com amor.

ESCUTAR

Eu não voltarei. E a noite morna, serena, calada, adormecerá tudo, sob sua lua solitária. Meu corpo estará ausente, e pela janela alta entrará a brisa fresca a perguntar pela minha alma... Ignoro se alguém me aguarda de ausência tão prolongada, ou beija a minha lembrança entre carícias e lágrimas. Mas haverá estrelas, flores e suspiros e esperanças, e amor nas alamedas, sob a sombra das ramagens. E tocará esse piano, como nesta noite plácida, não havendo quem o escute, a pensar, nesta varanda... Juan Ramón Jiménez O meu comentário??? Escuta-o o poeta... E os versos tranquilos... Sobre a solidão da alma... Algures no infinito.. Porque a brisa é fresca, é vaidosa. Procurará sempre outros beijos, outras esperanças, outros amores... Porque a vida assim lho dita....

PRÓXIMA

Desencanto Eu faço versos como quem chora De desalento... de desencanto... Fecha o meu livro, se por agora Não tens motivo nenhum de pranto. Meu verso é sangue. Volúpia ardente... Tristeza esparsa... remorso vão... Dói-me nas veias. Amargo e quente, Cai, gota a gota, do coração. E nestes versos de angústia rouca Assim dos lábios a vida corre, Deixando um acre sabor na boca. - Eu faço versos como quem morre. de Manuel Bandeira O meu comentário??? Ou para se libertar dela... Esquecer-se da morte... Das frases habituais... Num poema a coragem de gritar.... Com palavras amargas que magoam a boca e coração... A dor.... que se julga impossível, mas está tão próxima.. e é fatal na revolta...

VISÃO DE OLIMPO

Nascemos um para o outro, dessa argila De que são feitas as criaturas raras; Tens legendas pagãs nas carnes claras E eu tenho alma de fauno na pupila.. Às belezas heróicas te comparas E em mim a luz olímpica cintila Gritam em nós todas as nobres taras Daquela Grécia esplêndida e tranquila... É tanta a glória que nos encaminha Em nosso amor de seleção, profundo Que (ouço de longe o oráculo de Elêusis), Se um dia eu fosse teu e fosses minha, O nosso amor conceberia um mundo, E do teu ventre nasceriam deuses... " Argila" de Raul de Leôni O meu comentário??? Não somos deuses... E a glória esquece-se facilmente... Somos criaturas raras, porque apreciamos o prazer em conceber a arte... Seja urbana, marginal ou outra.... . E correndo riscos para a expor ... Não somos nós os incoerentes... Os que sujamos as mãos e moldamos esse monte de argila... Na nossa visão do Olimpo...