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MÃOS

Dá-me as Tuas Mãos As mãos foram feitas para trazer o futuro, encurtar a tristeza, encher o que fica das mãos de ontem - intervalos (duros, fiéis) das palavras, vocação urgente da ternura, pensamento entreaberto até aos dedos longos pelas coisas fora pelos anos dentro. Vitor Matos e Sá, in "Companhia Violenta" O meu comentário??? Sempre tive vergonha das minhas mãos... Tão pequeninas... Mas agora que se enroscam nas tuas, resguardo-as.... Com a tua ternura.... Com a pele das tuas... Já não as escondo.... Escrevo-te poemas encantados... Só de paixão.... Encho a noite com murmúrios... Abro os dedos e apaixono-me novamente... Por ti...

SEDE

Cereja cálice vermelho de prazer sensualidade em veludo sede de tocar. Lábios de desejo que debatem provocações, causam sufoco de emoções e beijos de sedução. Vou trincar a haste tenra e fina que desprende a cereja para a vida, " Cereja" de Alexandre Reis (II Antologia de Poetas Lusófonos) O meu comentário??? Nem sei... O que os meus lábios provocam em ti... Posso falar do prazer em beijar-te, sentir o teu corpo a abraçar o meu,,,, Das vontades que despertam e que nem sempre confesso.... A ti, ao meu próprio corpo como se tivesse ainda dúvidas.... Não de que te amo... Mas que as sinto, que as entrego em ti, de como o meu corpo tem sede de ti.....

ESCASSO

Que ninguém hoje me diga nada. Que ninguém venha abrir a minha mágoa, esta dor sem nome que eu desconheço donde vem e o que me diz. É mágoa. Talvez seja um começo de amor. Talvez, de novo, a dor, a euforia de ter vindo ao [mundo. Pode ser tudo isso ou nada disso. Mas não o afirmo. As palavras viriam-me revelar tudo. E eu prefiro esta angústia de não saber de quê. "Intimidade" de Fernando Namora in "Mar de Sargaços" O meu comentário??? Talvez o começo de tudo ou o fim de tudo... É a solidão enraizada em nós e sobre a qual, pouco ou nada sabemos... Porque pensamos que a conquistamos com esses momentos de euforia, que se tornam cada vez mais escassos. A verdade regressa... invade-nos a certeza... Com essa angústia que quase nos sufoca... Que insistimos que não faz parte de nós....

ACREDITAR NO HOJE

Tudo na vida está em esquecer o dia que passa. Não importa que hoje seja qualquer coisa triste, um cedro, areia, raízes, ou asa de anjo, caido num paul. O navio que passou além da barra já não lembra a barra. Tu o olhas nasa estranhas águas que ele há-de sulcar e nas estranhas gentes que o esperam em estranhos [portos. Hoje corre-te um rio dos olhos e dos olhos arrancas limos e morcegos. Ah, mas a tua vitória está em saber que não é hoje [o fim e que há certezas firmes e belas, que nem olhos vesgos podem negar. Hoje é o dia de amanhã. Fernando Namora in "Mar de Sargaços" O meu comentário??? O amanhã pode mudar tudo. A manhã pode abrir com um Sol brilhante que faz doer os olhos. A noite pode ser uma tempestade, um pesadelo que nada ou ninguém dissipará.. Nem vale a pena chorar... Porque está lá e lamentar o que poderia ter sido.... Oh, Deus, é agradecer que hoje não é o fim. É agarrar o que se tem neste momento, hoje e fazer com que o amanhã exista... Porque, se não se acred...

CALMO

Sofro de não te ver, de perder os teus gestos leves, lestos, a tua fala que o sorriso embala, a tua alma, límpida, tão calma. Sofro de te perder, durante dias que parecem meses, durantes meses que parecem anos... Quem vem regar o meu jardim de enganos, tratar das árvores de tenrinhos ramos? "Sofro de não te ver ver" de Saúl Dias in "Sangue" (inéditos) O meu comentário??? Sofrer por ti.... com a mesma paixão com que te amei... Tudo deixa de ter significado, porque tudo foi um engano. E nada é calmo, límpido... E cada gesto que se recorda, fica a dúvida. Não seria já o fim e não o li? Não o senti??? Não sei o que acontecerá... Quem entrará no jardim e o que dirá... Por enquanto, só cá estou eu...

HORIZONTE

Escrevo... O teu nome de sombra num leito de chocolate no envolvente degrau da espaçada memória. Escrevo.. Omitindo a ténue licença do sol despontando pela linha das flores, na caixa em eterna viagem. E, da vida, teço outonais ramas de palavras de infinitude suspensa. Escrevo.. A inefável nudez da hora. "Escrevo" de Fátima Fernandes (Amita - blog Branco e Preto) - publicado na II Antologia de Poetas Lusófonos O meu comentário??? Há dias em que não é fácil escrever... Porque as horas estão nuas, vazias... As palavras estão algures, perdidas, suspensas... E, eu não quero perder o Sol de vista... Ainda me consola... Ainda me escreve na pele mensagens de amor... Gostava que fossem as tuas.... Mas.... esse eterno " mas" que se entranha em nós...... Está lá nessa linha infinita do horizonte...

AUGE

No coração da mina mais secreta, No interior do fruto mais distante, Na vibração da nota mais discreta, No búzio mais convolto e ressonante, Na camada mais densa da pintura, Na veia que no corpo mais nos sonde, Na palavra que diga mais brandura, Na raiz que mais desce, mais esconde, No silêncio mais fundo desta pausa, Em que a vida se fez perenidade, Procuro a tua mão, decifro a causa De querer e não crer, final, intimidade "Intimidade" de José Saramago O meu comentário??? Continuas a falar em simplicidade... Nas pausas que se fazem ao longo do dia, em que nos lembramos de quem nos aguarda. Com essa serenidade, essa brandura que, pensa-se, só se encontra na velhice.. Encontro-a, todas as vezes, que penso em ti... Todas as vezes, que te quero com tanta intensidade que acho que vou morrer... E já não estou no auge da minha vida... Mas ainda não envelheci totalmente....