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VIAGEM SEM FIM

É o vento que me leva. O vento lusitano. É este sopro humano Universal Que enfuna a inquietação de Portugal. É esta fúria de loucura mansa Que tudo alcança Sem avançar. Que vai de céu em céu. De mar em mar. Sem nunca chegar. E esta tentação de me encontrar Mais rico de amargura Nas pausas de ventura De me procurar... "Viagem" de Miguel Torga, Diário XII O meu comentário??? Uma viagem sem fim... Nunca nos conhecemos totalmente..... Nunca dizemos tudo.... Entregamos a vida ao Vento..... Vagueamos com ele, libertamo-nos dessa amargura que fica... Quando tudo desaparece e ficamos sós.... Chora-se, grita-se, lamenta-se... E continuamos à procura.... De quê??? Um sentido, uma palavra de alento, uma esperança.......... No tempo, na vida....

MOMENTOS MEMORÁVEIS

Foi bonito O meu sonho de amor Floriram em redor Todos os campos em pousio. Um sol de Abril brilhou em pleno estio, Lavado e promissor. Só que não houve frutos Dessa Primavera. A vida disse que era Tarde demais. E que as paixões tardias São ironias Dos deuses desleais "Frustração" de Miguel Torga, Diário XV O meu comentário??? Não há paixões tardias.... Há apenas paixões... E momentos para viverem em nós.... Às vezes, espera-se demais e elas fogem.... Outras, encostam-se devagar.... E descobrimos um labirinto de emoções desconhecidas... Que percorrem os corredores da vida, afastando essas ironias e essas deslealdades... Por momentos memoráveis......

PRINCIPE ESFARRAPADO

Percorro o dia, que esmorece Nas ruas cheias de rumor; Minha alma vã desaparece Na minha pressa e pouco amor. Hoje é Natal. Comprei um anjo, Dos que anunciam no jornal; Mas houve um etéreo desarranjo E o efeito em casa saiu mal. Valeu-me um princípe esfarrapado A quem dão coroas no meio disto, Um moço doente, desanimado... Só esse pobre me pareceu Cristo. "Natal Chique" de Vitorino Nemésio O meu comentário??? Não tenho pressa... O tempo que tenho dedico-o ao meu princípe esfarrapado... Perdido em memórias que não são bem memórias... O tempo não é nada; o mundo...o que é o mundo? Não sei responder, porque não há palavras.... Há, sim, amor e dedicação.... Todos os dias do ano, sem excepção.... O meu princípe esfarrapado é o meu Pai.... 88 anos, doente de Alzheimer. .... O "Com Amor" deseja-vos um Feliz Natal e um Bom Ano 2011....

A ÚNICA COISA

Quem me dera que eu fosse o pó da estrada E que os pés dos pobres me estivessem pisando... Quem me dera que eu fosse os rios que correm E que as lavadeiras estivessem à minha espera... Quem me dera que eu fosse os choupos à margem do rio E só tivesse o céu por cima e a água por baixo... Quem me dera que eu fosse o burro do moleiro E que me batesse e me estimasse... Antes isso que ser o que atravessa a vida Olhando para trás de si e tendo pena.. "Quem me dera que eu fosse o pó da estrada" de Alberto Caeiro O meu comentário???? O sabor amargo da derrota... O desalento e a tristeza tão latentes... Nas lágrimas que sinto em cada uma das palavras... Porque também olhei para trás e tive pena.... Não é para trás que devemos olhar; é caminhar em frente... Disfarçar a dor num sorriso, que hoje não está no olhar, mas amanhã quem sabe??? São pequenos passos, pequenas vitórias,  mas acontecem.... E valem a pena, porque nos ensinam que a única coisa de que devemos ter pena é termos ...

CHEIROS, EMOÇÕES E SENTIMENTOS

Ás vezes, em dias de luz perfeita e exacta, Em que as coisas têm toda a realidade que podem ter, Pergunto a mim próprio devagar Porque sequer atribuo eu Beleza às coisas. Uma flor acaso tem beleza? Tem beleza acaso um fruto? Não: têm cor e forma E existência apenas. A beleza é o nome de qualquer coisa que não existe. Que eu dou às coisas em troca do agrado que me dão. Não significa nada. Então, porque digo eu das coisas: são belas? Sim, mesmo a mim, que vivo só de viver, Invisíveis,  vêm ter comigo as mentiras dos homens. Perante as coisas. Perante as coisas que simplesmente existem. Que difícil ser próprio e não ser senão o vísivel! "Às vezes, em dias de luz perfeita e exacta" de Alberto Caeiro O meu comentário??? Claro que significa... Sem a beleza, as mentiras dos homens seriam ainda mais duras... A luz deixaria de ser perfeita e o simples não existiria.... Não é o visível que se procura; é o que está por detrás desse visível.... Muito mais que a forma e a cor.... É o ...

RIMAS VERDADEIRAS

Não me importo com as rimas. Raras vezes Há duas árvores iguais, uma ao lado da outra. Penso e escrevo como as flores têm cor. Mas com menos perfeição no meu modo de exprimir-me. Porque me falta a simplicidade divina De ser todo só o meu exterior. Olho e comovo-me. Comovo-me como a água corre quando o chão é inclinado. E a minha poesia é natural como levantar-se o vento. "Não me importo com as rimas" de Alberto Caeiro O meu comentário??? É simples e é divino.... Exactamente por isso... Por ser natural e falar com alma... Da cor das flores, das lágrimas que insistem em espreitar... Do vento que nos acaricia e nos enlouquece... Da fantasia que rompe a escuridão... Do simples acto de respirar e estar presente.... Em rimas verdadeiras....

TOLERANTES

Não sou a areia onde se desenha um par de asas ou grades diante de uma janela. Não sou a pedra que rola nas marés do mundo, em cada praia renascendo outra. Sou a orelha encostada na concha da vida, sou construção e desmoronamento, servo e senhor e sou mistério. A quatro mãos escrevemos este roteiro para o palco da minha vida; o meu destino e eu. Nem sempre estamos afinados, nem sempre nos levamos a sério. "Convite" de Lya Luft (Santa Cruz do Sul, RS, n.1938) O meu comentário??? O verdadeiro mistério... é saber como continuamos vivos... Se dominamos o mundo ou se ele nos domina. Se vamos encontrar resposta para todas as questões ou só para algumas. O que é o destino? Que papel desempenhamos nele? Talvez seja a loucura ou a tolerância. Ou a resposta esteja no respeito. Por aquilo que somos... Mesmo que sejamos a tal pedra, escondida na areia e que se atira novamente para o mar....