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POR QUEM

A demora desta carta Vem do tempo em que escolhi Entre mil penas, a pena De me ver longe de ti. Quero escrever e não sei! Sendo em ti meu firmamento.. O pensamento é um rochedo; Palavras, leva-as o vento. Palavras, leva-as o vento? - Nem tufão, nem torvelinho Arrastariam suspiros Em que te falo sozinho! de António Corrêa d'Oliveira "Palavras leva-as o vento" O meu comentário??? Talvez seja por isso que falas sozinho.... Porque as deixaste fugir.... Ás vezes, é tarde demais para falar.... Deixaste que o Vento conquistasse o tempo.... E devias ter ficado e lutado..... Por quem agora te inspira o poema que escreves e dizes não saber como....

SINCERA

SAUDADE Magoa-me a saudade do sobressalto dos corpos ...ferindo-se de ternura dói-me a distante lembrança do teu vestido caindo aos nossos pés Magoa-me a saudade do tempo em que te habitava como o sal ocupa o mar como a luz recolhendo-se nas pupilas desatentas Seja eu de novo tua sombra, teu desejo, tua noite sem remédio tua virtude, tua carência eu que longe de ti sou fraco eu que já fui águia, seiva vegetal sou agora gota trémula, raiz exposta Traz de novo, meu amor, a transparência da água dá ocupação à minha ternura vadia mergulha os teus dedos no feitiço do meu peito e espanta na gruta funda de mim os animais que atormentam o meu sono. MIA COUTO Raiz de Orvalho e Outros Poemas   O meu comentário??? Sossega o meu vento, escreve-me no rasto do meu dia... Silencia as minhas palavras com o teu beijo... Volta a sorrir como dantes.... Na paixão sincera do meu corpo.... Porque todo o meu Mundo entrou em colapso.... Preciso da tua mão para ...

LIMITES

Identidade Preciso ser um outro para ser eu mesmo Sou grão de rocha Sou o vento que a desgasta Sou pólen sem insecto Sou areia sustentando o sexo das árvores Existo onde me desconheço aguardando pelo meu passado ansiando a esperança do futuro No mundo que combato morro no mundo por que luto nasço Mia Couto, in "Raiz de Orvalho e Outros Poemas" O meu comentário??? Porque me encontro, reinvento-me em estradas não assinaladas.... A verdade para além da verdade... Num passado sem glória, num futuro com sucesso... Perco-me nos labirintos da vida, cruzo-me com quem já perdeu tudo e cansou-se da vida... Não estou cansado.. Não quero desistir... Ainda não sei quais são os meus limites.....  

PÃO

vais ver há-de romper uma noite em que nem seremos capazes de reconhecer a nossa própria voz perguntando pelo nome que fugiu da nossa boca e ao estendermos as mãos sobre a toalha da mesa do jantar será apenas o cheiro do pão quente a ficar  remotamente  entre os dedos e uma jarra sem flores a tentar decifrar a ausência de quem nos amava e um choro a abandonar-nos naquele momento em que o fim do verão nos explicava tudo. de Alice Vieira O meu comentário??? O "tudo" que passou a ser "nada"... Um "nada" sem voz, um "nada" ausente... O fim do verão é o fim da distância... Esse distância que não se explica.... Porque já se amou e não se volta a amar assim... Aquela será a última conversa... Naquela mesa, com aquela toalha que ficará esquecida, na gaveta, rejeitada, culpada por ter ainda o cheiro do pão entranhado. ..

MAPA DO TESOURO

Uma declaração de amor não é acontecimento de domínio público, uma baleia que vara na praia sob o sol dos desastres e convoca multidões, desalinhando hábitos quotidianos: uma declara- ção de amor é um acto de grande intimidade que ergue um véu transparente de onde brotam mel e pássaros azuis. As palavras directas ou indirectas, ditas ou escritas, suscitam a carícia única, irrepe- tível, a leve percussão que desenha no silêncio a imagem de quem se ama. E assim terá de se guardar. Num lugar seguro onde os sismos não possam encontrar o mapa de tesouro de Egito Gonçalves O meu comentário??? O meu lugar seguro é o meu coração... Onde escrevo tudo... As palavras que já te disse, as que pensei dizer-te hoje... E as que não vou repetir amanhã, porque fiquei em silêncio... Com o beijo carinhoso e suave com que fechaste o meu dia... A noite pode ser azul e doce.... Mas ignoramos tudo..... Mesmo o mapa do tesouro.... Sabemos perfeitamente onde estamos...

PERFUME DA NOITE

As formas, as sombras, a luz que descobre a noite e um pequeno passáro e depois longo tempo eu te perdi de vista meus braços são dois espaços enormes os meus olhos são duas garrafas de vento e depois eu te conheço de novo numa rua isolada minhas pernas são duas árvores floridas os meus dedos numa plantação de sargaços a tua figura era ao que me lembro da cor do jardim. "Z" de António Maria Lisboa O meu comentário??? Porque insistes em falar em solidão??? Se a noite se cala e nada mais há a dizer... Esquecer???? Não é fácil, pois não??? Com tantas memórias escritas em coisas tão simples... Como o perfume da noite ou árvore que floresce.... A vida parece mesmo vazia.... Mas estará realmente????

TUDO

Andas pela casa com passos leves, pousas a mão no colo, sorris. E eu acredito que o mundo te acompanha. Como ecos do que fazes, formam-se nuvens sobre o mar e cantam pássaros em países distantes. Sei que é assim. O teu olhar sustenta o céu imenso, a luz dos astros, todas as galáxias. " O teu olhar sustenta o céu imenso" de José Mário Silva O meu comentário??? E eu refugio-me no teu olhar... E não falo.... Deixo que seja o mundo a falar-te... E no teu sorriso encontro as respostas a tudo... Porque amo-te por completo.... Vivemos como um todo.... Por isso, tudo é imenso.... Tudo...  é este amor em que nos sorrimos.....