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O TEMPO

As pessoas não vêm para o abandono da rua para serem felizes, só se for com um copo na mão para festejarem uma passagem de ano. As pessoas atravessam a ponte que separa duas vidas, ou dois modos de vida, porque não têm alternativa, porque é este o caminho que lhe resta. E depois ninguém as vem procurar nem chamar à razão para que reconsiderem e regressem. Ninguém regressa, ao fim e ao cabo." Extracto do livro de José Jorge Letria "Coração sem abrigo" (recomendo a sua leitura ) O meu comentário??? É apenas mais um rosto... Ninguém o trata mais pelo nome, porque, e utilizando a expressão do autor, ao fim e ao cabo, temos medo de que não haja mesmo alternativa. E sejamos nós, um dia, aquele rosto sujo e com a dor espelhada nos olhos... O que eu espero??? Que haja uma alternativa  e que ninguém mais atravesse essa ponte... Os melhores votos para 2012.....
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Com os desejos de Boas Festas... Com a voz de Marisa Monte.... Não foi um ano fácil para mim... Mas vamos continuar a voar por aqui, pelo meu outro blog... Sempre....

BRAMIDO DO MAR

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Adoro seduzir-te, e encantar a noite. Esta noite, confundo-te. Deixo-te completamente só. Apenas as velas estão acesas e a lingerie espalhada pelo chão. Num cenário, em nada exagerado. Muito banal, até. Mas porque não estou aqui, nua em frente à lareira, com um copo de vinho na mão? Onde estou? A sentir a fúria do mar. Não o vejo da janela do quarto. Cheiro-o, no entanto. Um cheiro forte, a algas e a espuma, cinzenta e cerrada. Hoje, quero que me ames, ouvindo, ao longe, o bramido do mar... Poema de minha autoria, publicado no meu blog principal em 2009 A razão porque o partilho hoje convosco é porque foi escolhido e publicado num livro colectivo, que se chama "Entre o Hoje e o Amanhã" e cujo lançamento foi hoje, na Casa do Infante, no Porto. Foi um presente de Natal inesperado, foi a primeira vez que publiquei e estou muito feliz.... 

SILÊNCIO

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Os Justos Um homem que cultiva o seu jardim, como queria Voltaire. O que agradece que na terra haja música. O que descobre com prazer uma etimologia. Dois empregados que num café do Sul jogam um silencioso xadrez. O ceramista que premedita uma cor e uma forma. O tipógrafo que compõe bem esta página, que talvez não lhe agrade. Uma mulher e um homem que lêem os tercetos finais de certo canto. O que acarinha um animal adormecido. O que justifica ou quer justificar um mal que lhe fizeram. O que agradece que na terra haja Stevenson. O que prefere que os outros tenham razão. Essas pessoas, que se ignoram, estão a salvar o mundo. Jorge Luis Borges, in "A Cifra" Tradução de Fernando Pinto do Amaral

MOMENTO

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Nostalgia do Presente Naquele preciso momento o homem disse: «O que eu daria pela felicidade de estar ao teu lado na Islândia sob o grande dia imóvel e de repartir o agora como se reparte a música ou o sabor de um fruto.» Naquele preciso momento o homem estava junto dela na Islândia. Jorge Luis Borges, in "A Cifra" Tradução de Fernando Pinto do Amaral  

E PORQUE NÃO???

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Houve uma Ilha em Ti Houve uma ilha em ti que eu conquistei. Uma ilha num mar de solidão. Tinha um nome a ilha onde morei. Chamava-se essa ilha Coração. Que saudades do tempo que passei. Nenhum desses momentos foi em vão. Do teu corpo, de ti, já nada sei. Também não sei da ilha, não sei, não. Só sei de mim, coberto de raízes. Enterrei os momentos mais felizes. Vivo agora na sombra a recordar. A ilha que eu amei já não existe. Agora amo o céu quando estou triste por não saber do coração do mar. Joaquim Pessoa, in 'Ano Comum'

PROFERIDA

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Sou a Tua Casa Sou a tua casa, a tua rua, a tua segurança, o teu destino. Sou a maçã que comes e a roupa que vestes. Sou o degrau por onde sobes, o copo por onde bebes, o teu riso e o teu choro, o teu frio e a tua lareira. O pedinte que ajudas, o asilo que te quer acolher. Sou o teu pensamento, a tua recordação, a tua vontade. E também o artesão que para ti trabalha, o medo que te perturba e o cão que te guia quando entras pela noite. Sou o sítio onde descansas, a árvore que te dá sombra, o vento que contigo se comove. Sou o teu corpo, o teu espírito, o teu brilho, a tua dúvida. Sou a tua mãe, o teu amante, o marfim dos teus dentes. E sou, na luz do outono, o teu olhar. Sou a tua parteira e a tua lápide. Os teus vinte anos. O coração sepultado em ti. Sou as tuas asas, a tua liberdade, e tudo o que se move no teu interior. Sou a tua ressaca, o teu transtorno, o relógio que mede o tempo que te resta. Sou a tua memória, a memória da tua memória, o teu orgulho, a fecundação das tuas entra...