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A mostrar mensagens de julho 6, 2008

PERDIDO NO TEMPO

David Mourão Ferreira "PARAÍSO" Deixa ficar comigo a madrugada, para que a luz do Sol me não constranja. Numa taça de sombra estilhaçada, deita sumo de lua e de laranja. Arranja uma pianola, um disco, um posto, onde eu ouça o estertor de uma gaivota... Crepite, em derredor, o mar de Agosto... E o outro cheiro, o teu, à minha volta! Depois, podes partir. Só te aconselho que acendas, para tudo ser perfeito, à cabeceira a luz do teu joelho, entre os lençóis o lume do teu peito... Podes partir. De nada mais preciso para a minha ilusão do Paraíso. O meu comentário??? Uma ilusão... Um desejo.... Presos entre as recordações.... Entre os lençóis amarrotados.... Alguém que parte e leva parte de nós... As dúvidas eternas.... Respostas que se encontram... Com o tempo... Que julgamos ter perdido, mas está sempre ali........

MUNDO A NOSSOS PÉS

EXERCÍCIO ESPIRITUAL Mário Cesariny de Vasconcelos É preciso dizer rosa em vez de dizer idéia é preciso dizer azul em vez de dizer pantera é preciso dizer febre em vez de dizer inocência é preciso dizer o mundo em vez de dizer um homem É preciso dizer candelabro em vez de dizer arcano é preciso dizer Para Sempre em vez de dizer Agora é preciso dizer O Dia em vez de dizer Um Ano é preciso dizer Maria em vez de dizer aurora O meu comentário??? E essa aurora ter todos os nomes.... E o Agora ser este momento que não se repete.... Pois há momentos que são únicos... E quanto ao azul.... Nunca se sabe onde começa e onde acaba.... Dura muito mais do que Um Ano... É o Mundo a nossos pés....

ENCONTRO

poema Em todas as ruas te encontro em todas as ruas te perco conheço tão bem o teu corpo sonhei tanto a tua figura que é de olhos fechados que eu ando a limitar a tua altura e bebo a água e sorvo o ar que te atravessou a cintura tanto tão perto tão real que o meu corpo se transfigura e toca o seu próprio elemento num corpo que já não é seu num rio que desapareceu onde um braço teu me procura Em todas as ruas te encontro em todas as ruas te perco Mário Cesariny O meu comentário??? E de olhos fechados.... Tudo se vê, tudo se sente.... Nada se finge.... Quem mente ao coração.... Perde-se no labirinto dessas ruas... Num turbilhão de contradições......... Entre histórias mal contadas... O Amor não pode ser uma história mal contada.... Tem que ser vivida, sentida, partilhada.... Ou então, andamos sempre perdidos........

CORES DE OUTONO

Antes de amar-te, amor, nada era meu Vacilei pelas ruas e as coisas: Nada contava nem tinha nome: O mundo era do ar que esperava. E conheci salões cinzentos, Túneis habitados pela lua, Hangares cruéis que se despediam, Perguntas que insistiam na areia. Tudo estava vazio, morto e mudo, Caído, abandonado e decaído, Tudo era inalienavelmente alheio, Tudo era dos outros e de ninguém, Até que tua beleza e tua pobreza De dádivas encheram o outono. Pablo Neruda O meu comentário??? E encontraste o motivo para viver.... Por medo não falavas... Através do amor, soltaste essas palavras... Abandonadas, amordaçadas.... Espezinhadas.... E, no cinzento da alma, pintaste as cores ricas... Desse amor que te libertou e te fez olhar em frente...............

ULTRAPASSA

Amor, quantos caminhos até chegar a um beijo, que solidão errante até tua companhia! Seguem os trens sozinhos rodando com a chuva. Em tal não amanhece ainda a primavera. Mas tu e eu, amor meu, estamos juntos, juntos desde a roupa às raízes, juntos de outono, de água, de quadris, até ser só tu, só eu juntos. Pensar que custou tantas pedras que leva o rio, a desembocadura da água de Boroa, pensar que separados por trens e nações tu e eu tínhamos que simplesmente amar-nos com todos confundidos, com homens e mulheres, com a terra que implanta e educa cravos. Pablo Neruda O meu comentário??? O que ultrapassa... As convenções... .........os limites, a linha do horizonte.... Mesmo as estações..... De que os cépticos desconfiam.... Mas os verdadeiros amantes vivem... Com os altos e os baixos.... Com os risos e as lágrimas.... Simplesmente.... Amar é isso.... Sentir-se completo.... Verdadeiramente........

ALMA SEM PAZ

Esperemos Há outros dias que não têm chegado ainda, que estão fazendo-se como o pão ou as cadeiras ou o produto das farmácias ou das oficinas - há fábricas de dias que virão - existem artesãos da alma que levantam e pesam e preparam certos dias amargos ou preciosos que de repente chegam à porta para premiar-nos com uma laranja ou assassinar-nos de imediato. Pablo Neruda (Últimos Poemas) O meu comentário??? Melhor viver o dia presente.... Seguir a brisa... Seguir o coração... Amanhã, o mundo pode estar diferente... Mais egoísta, mais corrupto... Mais violento..... Enterrar-nos num mutismo vigiado... Cada palavra ofensiva.... A alma sem paz.....

QUEM SABE?

Quero saber Quero saber se você vem comigo a não andar e não falar, quero saber se ao fim alcançaremos a incomunicação; por fim ir com alguém a ver o ar puro, a luz listrada do mar de cada dia ou um objeto terrestre e não ter nada que trocar por fim, não introduzir mercadorias como o faziam os colonizadores trocando baralhinhos por silêncio. Pago eu aqui por teu silêncio. De acordo, eu te dou o meu Com uma condição: não nos compreender Pablo Neruda (Últimos Poemas) O meu comentário??? Uma outra forma de solidão.... Está tudo dito no silêncio.... Viver as coisas como elas são... Sem as embelezar.... Expressar o que se sente, o que nos dizem... Apenas a companhia.... Sem troca de impressões, ideias, projectos... Cansaço, desilusão...com a vida em si??? Quem sabe?