sexta-feira, agosto 07, 2009

ENQUANTO ESCREVO

SAUDADE




A saudade me aperta


Em mim tão docemente


Minha alma de engano


Nesta paz aberta,


Com este meu mal contente


Que me causa tanto dano;


Neste papel a desabafar-me...


Nos teus olhos preso


Esta vida que mal me atrevo


Continuou a enganar-me


Saudade vai-te embora, te peço


Pelo menos enquanto escrevo.




Frankelim Gomes Amaral (Livro "II Antologia de Poetas Lusófonos)


O meu comentário???


Enquanto escrevo...

Engano-me...

Por entre palavras rebuscadas e que os outros não entendem..

É tudo o que a minha alma consegue dizer..

Pois sou um prisioneiro,

a quem a saudade nega os direitos mais fundamentais...

Ver-te,

sentir-te,

amar-te...


quarta-feira, agosto 05, 2009

AMPULHETA

Tempo



Tempo — definição da angústia.

Pudesse ao menos eu agrilhoar-te

Ao coração pulsátil dum poema!

Era o devir eterno em harmonia.

Mas foges das vogais, como a frescura

Da tinta com que escrevo.

Fica apenas a tua negra sombra:

— O passado,

Amargura maior, fotografada.



Tempo...

E não haver nada,

Ninguém,

Uma alma penada

Que estrangule a ampulheta duma vez!



Que realize o crime e a perfeição

De cortar aquele fio movediço

De areia

Que nenhum tecelão

É capaz de tecer na sua teia!



Miguel Torga, in 'Cântico do Homem'




O meu comentário???


Escapa-se...


O tempo não perdoa e canta...


Alegremente,


com certezas,


sem diplomacia..


Pode oferecer conselhos, mas


é rude..


Afinal, para quê perder tempo


em ser educado???


Sobrevive a tudo..


À ampulheta que parte,


ao tear que enferruja,


à tapeçaria que perde as cores..


Uma luta desigual?


O tempo que a areia leva a desaparecer da nossa mão....