sexta-feira, abril 22, 2011

POR QUEM

A demora desta carta
Vem do tempo em que escolhi
Entre mil penas, a pena
De me ver longe de ti.

Quero escrever e não sei!
Sendo em ti meu firmamento..
O pensamento é um rochedo;
Palavras, leva-as o vento.

Palavras, leva-as o vento?
- Nem tufão, nem torvelinho
Arrastariam suspiros
Em que te falo sozinho!

de António Corrêa d'Oliveira "Palavras leva-as o vento"

O meu comentário???
Talvez seja por isso que falas sozinho....
Porque as deixaste fugir....
Ás vezes,
é tarde demais para falar....
Deixaste que o Vento conquistasse o tempo....
E devias ter ficado e
lutado.....
Por quem
agora te inspira o poema
que escreves e dizes
não saber como....

quarta-feira, abril 20, 2011

SINCERA

SAUDADE

Magoa-me a saudade

do sobressalto dos corpos

...ferindo-se de ternura

dói-me a distante lembrança

do teu vestido

caindo aos nossos pés



Magoa-me a saudade

do tempo em que te habitava

como o sal ocupa o mar

como a luz recolhendo-se

nas pupilas desatentas



Seja eu de novo tua sombra, teu desejo,

tua noite sem remédio

tua virtude, tua carência

eu

que longe de ti sou fraco

eu

que já fui águia, seiva vegetal

sou agora gota trémula, raiz exposta



Traz

de novo, meu amor,

a transparência da água

dá ocupação à minha ternura vadia

mergulha os teus dedos

no feitiço do meu peito

e espanta na gruta funda de mim

os animais que atormentam o meu sono.



MIA COUTO


Raiz de Orvalho e Outros Poemas
 
O meu comentário???
Sossega o meu vento,
escreve-me no rasto do meu dia...
Silencia as minhas palavras com o teu beijo...
Volta a sorrir como dantes....
Na paixão sincera do meu corpo....
Porque todo o meu Mundo entrou em colapso....
Preciso da tua mão para entrar novamente....
No que resta da minha vida....

segunda-feira, abril 18, 2011

LIMITES

Identidade

Preciso ser um outro

para ser eu mesmo



Sou grão de rocha

Sou o vento que a desgasta



Sou pólen sem insecto



Sou areia sustentando

o sexo das árvores



Existo onde me desconheço

aguardando pelo meu passado

ansiando a esperança do futuro



No mundo que combato morro

no mundo por que luto nasço



Mia Couto, in "Raiz de Orvalho e Outros Poemas"

O meu comentário???
Porque me encontro,
reinvento-me
em estradas não assinaladas....
A verdade para além da verdade...
Num passado sem glória,
num futuro com sucesso...
Perco-me nos labirintos da vida,
cruzo-me com quem já perdeu tudo
e cansou-se da vida...
Não estou cansado..
Não quero desistir...
Ainda não sei quais são
os meus limites.....