vais ver
há-de romper uma noite
em que nem seremos capazes
de reconhecer a nossa própria voz
perguntando pelo nome
que fugiu da nossa boca
e ao estendermos as mãos
sobre a toalha da mesa do jantar
será apenas o cheiro do pão quente
a ficar remotamente entre os dedos
e uma jarra sem flores a tentar decifrar
a ausência de quem nos amava
e um choro a abandonar-nos naquele momento
em que o fim do verão nos explicava tudo.
de Alice Vieira
O meu comentário???
O "tudo" que passou a ser "nada"...
Um "nada" sem voz,
um "nada" ausente...
O fim do verão é o fim da distância...
Esse distância que não se explica....
Porque já se amou
e não se volta a amar assim...
Aquela será a última conversa...
Naquela mesa, com aquela toalha
que ficará esquecida,
na gaveta,
rejeitada,
culpada por ter ainda o cheiro do pão entranhado...