Invento-te recordo-te distorço
a tua imagem mal e bem amada
sou apenas a forja em que me forço
a fazer das palavras tudo ou nada.
A palavra desejo incendiada
lambendo a trave mestra do teu corpo
a palavra ciúme atormentada
a provar-me que ainda não estou morto...
E as coisas que eu não disse? Que não digo:
Meu terraço de ausência meu castigo
meu pântano de rosas afogadas...
Por ti me reconheço e contradigo
chão de palavras mágicas joio e trigo
apenas por ternura levedadas....
"Soneto de Mal Amar" de Ary dos Santos
in "O Sangue das Palavras"
O meu comentário???
E é sangue que sinto ao morder os lábios..
Ao sentir todo esse desejo
de largar nas palavras escritas
O que não desabafo...
Esse amor...
esse ciúme...
sempre com esse desejo...
Essa ternura caótica
que percorre todo o meu corpo...
Em que tudo,
não só as palavras,
é mágico....
Porque é puro
e suspira em mim...