sábado, maio 21, 2011

LONGAMENTE

COISA AMAR

Contar-te longamente as perigosas

coisas do mar. Contar-te o amor ardente

e as ilhas que só há no verbo amar.

Contar-te longamente, longamente.



Amor ardente. Amor ardente. E mar.

Contar-te longamente as misteriosas

maravilhas do verbo navegar.

E mar. Amar: as coisas perigosas.



Contar-te longamente que já foi

num tempo doce coisa amar. E mar.

Contar-te longamente como dói



desembarcar nas ilhas misteriosas.

Contar-te o mar ardente e o verbo amar.

E longamente as coisas perigosas.



Poema de Manuel Alegre
(enviado por Álvaro Lins)

O meu comentário???
Longamente amar-te.....
Sem respeitar as regras do verbo...
Porque amar é simplesmente amar...
Com paixão,
com esse ardor
que não se conta nas palavras...
Porque é misterioso
e os caminhos que traça na pele....
São infinitos.....
Tão infinitos como amar longamente.....

quinta-feira, maio 19, 2011

PRESENÇA

HINO À DOR


Sorri com mais doçura a boca de quem sofre,
Embora amargue o fel que os seus lábios beberam;
É mais ardente o olhar onde, como um aljofre,
A Dor se condensou e as lágrimas correram.
 
Soa, como se um beijo ou uma carícia fosse,
A voz que a soluçar na Desgraça aprendeu;
E não há para nós consolação mais doce
Que o regaço de quem muito amou e sofreu.
 
Voz, que jamais vibrou num soluço de mágoa,
Ao nosso coração nunca pode chegar...
Mas o pranto, ao cair duns olhos rasos de água,
Torna mais penetrante e mais profundo o olhar
 
Lábio, que só bebeu na fonte da Alegria,
É frio, como o olhar de quem nunca chorou;
A Bondade é uma flor que se alimenta e cria
Dos resíduos que a Dor no coração deixou.
 
Em tudo quanto existe o Sofrimento imprime
Uma augusta expressão... mesmo a Suprema Graça,
Dando aos versos do Poeta esse esmalte sublime
Que torna imorredoira a Inspiração que passa.
 
É por isso que a Dor, sem trégua nem guarida,
Dor sem resignação, Dor de estóico ou de santo,
Só de a vermos passar no tumulto da Vida
Deixa os olhos da gente enublados de pranto.
 
(António Feijó – 1859 – 1917)
(Enviado por Álvaro Lins)

O meu comentário???

O choro secreto....
O conflito de tudo -
raiva, indignação, revolta...

E o choro forte, pesado...
Magoa quem ouve...
Quem se sente impotente,
 às vezes....
Porque tem medo de não saber
a palavra certa....

Não há palavra certa;
há apenas a presença...





domingo, maio 15, 2011

24 HORAS

Quando já não há nada

absolutamente nada pra dizer

e cada dia te parece apenas

uma longa e inútil sequência

de vinte e quatro horas vazias



Quando uma folha de papel

é um deserto branco já sem rosto

um firmamento sem constelação

uma página nua, uma página

muda

há dois rápidos olhos que te falam

desde sempre da terra prometida



Consegues fixá-los Não tens medo?

Vê como arde súbito o seu gelo

no fundo das pupilas

e não hesites – rouba essa vertigem

ao coração da noite

porque às vezes não há outra saída

para algumas palavras que ainda podem

ser um arco uma flecha

perto do alvo que ninguém conhece

Poema de Fernando Pinto Amaral

O meu comentário???
E fala...
Grita todas essas palavras...
Sem medo...
Alguém as escutará...
E essa página não ficará em branco....
Não roubes nada à noite...
Torna-te num aliado....
E as 24 horas do dia....
Vive-as apenas......
Por ti....