PRESENÇA
HINO À DOR
Sorri com mais doçura a boca de quem sofre,
Embora amargue o fel que os seus lábios beberam;
É mais ardente o olhar onde, como um aljofre,
A Dor se condensou e as lágrimas correram.
Soa, como se um beijo ou uma carícia fosse,
A voz que a soluçar na Desgraça aprendeu;
E não há para nós consolação mais doce
Que o regaço de quem muito amou e sofreu.
Voz, que jamais vibrou num soluço de mágoa,
Ao nosso coração nunca pode chegar...
Mas o pranto, ao cair duns olhos rasos de água,
Torna mais penetrante e mais profundo o olhar
Lábio, que só bebeu na fonte da Alegria,
É frio, como o olhar de quem nunca chorou;
A Bondade é uma flor que se alimenta e cria
Dos resíduos que a Dor no coração deixou.
Em tudo quanto existe o Sofrimento imprime
Uma augusta expressão... mesmo a Suprema Graça,
Dando aos versos do Poeta esse esmalte sublime
Que torna imorredoira a Inspiração que passa.
É por isso que a Dor, sem trégua nem guarida,
Dor sem resignação, Dor de estóico ou de santo,
Só de a vermos passar no tumulto da Vida
Deixa os olhos da gente enublados de pranto.
(António Feijó – 1859 – 1917)
(Enviado por Álvaro Lins)
O meu comentário???
O choro secreto....
O conflito de tudo -
raiva, indignação, revolta...
E o choro forte, pesado...
Magoa quem ouve...
Quem se sente impotente,
às vezes....
Porque tem medo de não saber
a palavra certa....
Não há palavra certa;
há apenas a presença...
Comentários
Quanto à tua análise, excelente!
"Não há palavra certa;
há apenas a presença...!
Um Abraço
Um grande beijo.
O Hino à Dor é o Hino à Vida, porque a vida é dorreassess
Beijinhos
Beijinho, Marta... vou passando.