quinta-feira, dezembro 27, 2012
VELHA LOUCA
Gosto de ser "a velha louca do cais"....
Deixam-me em paz; não interferem com o meu tempo...
A única coisa a que posso chamar minha...
Se é solitário o meu tempo?
Ás vezes....Não o posso negar; mas usufruo-o por completo....
Talvez porque só conheci barulho e angústia na vida...
E as memórias de infância.....
O meu recanto secreto para onde fugia quando apagava a luz e tinha a certeza de que ninguém me perseguia...
Porque há decisões fatais e pessoas que nunca deveríamos ter conhecido....
(Continua)
Tela da Página "Open Art Group"
domingo, dezembro 16, 2012
NO CAIS VELHO
Tela
de Maggie Graham “Friends”
Onde
estás?
O
que nos aconteceu?
À
promessa de que nada ou ninguém nos separaria?
Porque
a minha vida foi tudo menos o que dissemos que seria naquelas tardes
maravilhosas de Verão em que ainda podíamos inventar a vida....
Lembras-te?
Das
horas que passávamos deitadas de barriga para baixo no cais a
conspirar com o rio?
De
como pensavam que éramos irmãs, por termos o cabelo loiro e
vestirmos as mesmas cores?
Ainda
gosto de cores suaves....
Estou agora sozinha, partiram todos e ninguém pode partilhar as
minhas memórias do passado...
Se
estivesses aqui....
Mas tu própria nada mais és que uma outra
memória daquela velha louca que passa as tardes no cais velho....
terça-feira, dezembro 11, 2012
OUVIR
Não esqueço….
Nunca poderei esquecer estas
cores gloriosas…
Memórias de abraços quentes e
paixões arrebatadas…
Ou de apenas um dia bonito, de
calma, de paz…
Porque é o que eu quero pensar
HOJE
Em que escrevo TUDO em maiúscula
Para ter a CERTEZA de que me
ouvem.....
FOTO DE JOSÉ ALEX GANDUM
sexta-feira, dezembro 07, 2012
OS "PORQUÊS"
O amor não tem “porquês”,
mas estou rodeada por “porquês”...
Noite e dia, penso nos “porquês”…
E pergunto-me o que mudaria, se pudesse....
mas estou rodeada por “porquês”...
Noite e dia, penso nos “porquês”…
E pergunto-me o que mudaria, se pudesse....
FOTO DE JOSÉ ALEX GANDUM
sábado, dezembro 01, 2012
EGOÍSTA
Hoje, não existo....
Não tenho palavras, lúcidas ou loucas, para contar histórias..
As histórias que queres que eu escreva
Sujas, macabras, sem esperança
E porque não as escrevo....não existo....
A verdade é que não me importo de não existir
Para ti...Na tua visão egoísta do Mundo...
Foto de Open Art Group
segunda-feira, novembro 26, 2012
FRIO
Já não sei o que é sonhar...
Nem sorrir consigo...
Ouço o riso do Vento,
o grito da chuva…
Mas é o frio que se entranha
na alma, no corpo
que enfraquece os meus sonhos e
torna ainda mais escura a solidão da vida……
Nem sorrir consigo...
Ouço o riso do Vento,
o grito da chuva…
Mas é o frio que se entranha
na alma, no corpo
que enfraquece os meus sonhos e
torna ainda mais escura a solidão da vida……
FOTO DE JOSÉ ALEX GANDUM
sexta-feira, novembro 23, 2012
TERMINAR O POEMA
Termina o poema. Eu não consigo....
Penso nas palavras; não as sinto, mergulho-as num vazio angustiante...
Termina o poema. Não penses no que eu possa estar a sentir.
HOJE, neste momento em que fujo das memórias da cidade...
AGORA, antes que me esconda nos reflexos da luz no mar.
Siga as aves para me apaixonar novamente pela vida....
Não sei quando volto; como volto.
Mas que seja com um brilho tranquilo no olhar...
Se quiseres, termina o poema assim....
Foto de José Alex Gandum
sábado, novembro 17, 2012
CARÍCIAS DA CHUVA
Chove
Neste
bosque encantado
Apaga-se
o tempo
Nestas
árvores torcidas
Fica-se
em silêncio
Nas
carícias da chuva
E
lembramos tempos idos....
FOTO
DE JOSÉ ALEX GANDUM
quinta-feira, novembro 15, 2012
SINCERAMENTE
Foto de José Alex Gandum
Sinceramente???
Não sei o que pensar, não sei o que fazer....
Nem mesmo para onde olhar.....
Estou cansado de esperar que o "amanhã" seja diferente...
Porque a única coisa diferente no "amanhã" poderá ser o desespero da chuva ou a troça do Sol...
Começo a fazer perguntas que nunca sonhei em fazer, a lembrar-me de conselhos que ignorei por achar antiquados....
Não sei a verdade das coisas; sei apenas a verdade da minha vida...
E....sinto-me muito sozinho....
domingo, novembro 11, 2012
PARTILHA
Imagem da Net
Obrigada
pelo convite...
Estou
farta da chuva e ter que ficar dentro de casa...
E
comer um gelado num dia frio de Sol, é uma aventura...
Se
bem que ache que escolheste o melhor sabor...
Posso
provar???
Só
vou tirar um bocadinho...
Também
podes tirar um bocadinho do meu, se quiseres e misturar...
Ah,
malvado, queres ficar com tudo para ti!!!
Hum,
enganaste-me por um momento!!!
Não
é bom partilharmos???
Seja o gelado, seja a vida.....
quarta-feira, novembro 07, 2012
MAIS UMA LINHA
FOTO DE JOSÉ ALEX GANDUM
Em dias como este,
sou um mero traço na tua
imensidão…
Um contraste com a tua transparência…
Acrescento à tua vida mais uma
linha,
complico o enredo da história…
Mas a história está já complicada,
pesada….
Eu sou apenas a porta que não vês……
sexta-feira, novembro 02, 2012
CORAGEM
FOTO
DE JOSÉ ALEX GANDUM
Vá
lá,
façam-me
a vontade..
Olhem
para mim...
Como
estou de cabeça erguida
As
plumas aprumadas
As
patas alinhadas
E,
nem medo tenho da chuva....
Porque
voltarei a erguer a cabeça
A
limpar as penas
A
fincar as patas...
Chamem-me
orgulhoso...
Eu
acho que estou a enfrentar
a vida
com coragem....
com coragem....
domingo, outubro 28, 2012
ALENTO
Foto de José Alex Gandum
Posso ter perdido o verde
Mas foi só a cor...
Não perdi a esperança
de me reencontrar com o destino
Mesmo que rodopie
nos corredores do vento
e esteja apenas seca, enrugada
Pode ser triste partir...
Mas volto,
com novo alento...
Deixa que o leia
nos teus olhos
também...
também...
terça-feira, outubro 23, 2012
ESTRANHO CONSOLO
Conheces-me…
E sabes o que procuro na chuva…
Escondo-me,
esqueço-me nas sombras
e espero que o tempo não me encontre….
Mas tu não…esperas por mim…
Não dizes absolutamente nada…
E o teu silêncio é um estranho consolo…
FOTO DE JOSÉ ALEX GANDUM
segunda-feira, outubro 22, 2012
DESAFIO
O
Sofá Amarelo desafiou-me a participar e aqui estão as regras e a minha contribuição-
1
- O texto, constituído por vinte parágrafos, terá início no
blogue "O Sabor da Palavra"
(http://osabordapalavra.blogspot.com), segundo o seu autor Gonçalo
Cardoso.
2
- Cada bloguista terá direito a um parágrafo do texto com o máximo
de cinco linhas. Não é taxativo, tanto pode ser mais ou menos, mas
sem exageros.
3
- Após a realização do parágrafo respectivo, cada bloguista terá
que selecionar outro bloguista que cumpra a continuidade do texto,
segundo as regras mencionadas.
4
- Cada bloguista terá o limite máximo de três dias para realização
do parágrafo, estando sujeito a desclassificação da rubrica e
seleção de novo bloguista por parte do seu autor.
5
- Cada bloguista assinará o seu nome e respectivo blogue na lista
dos participantes.
6
- O último participante ou autor do vigésimo parágrafo, finalizará
o texto e partilhará com o autor do blogue "O Sabor da Palavra"
para a sua divulgação no blogue inicial.
7
- Sejam criativos.
Lista
de Participantes:
1
- Gonçalo Cardoso (O Sabor da Palavra)
2
- Buxexinhas (Pedacinhos de mim...)
3
- Karochinha (O Meu Eu)
4
- A Minha Essência (Roupa Prática)
5
- Olívia Palito (Olívia Palito no País das Maravilhas)
6
- L'Enfant Terrible (L'Enfant Terrible Lx)
7
- Utena (Os meus idealismos)
8
- Alexandra Martinho (Ouso Escrever)
9
- AC ( nadadecoisanenhuma)
10
- Poppy (Apontamentos de Luz)
11
- Briseis (do meu pedestal)
12
- Teté (Quiproquó)
13
- Vitor (PreDatado)
14
- Rogério Pereira (Conversa Avinagrada)
15
– Lídia Borges (Searas de Versos )
16
- Maria João Martins ( Pequenos Detalhes )
17
- Filoxera (Escrito a Quente)
19
-Marta Vinhais (Com Amor)
20
-
"Já tinha dobrado as
duas da manhã. Estava a sair da emissão de rádio, incomodado com
um ouvinte que alegava a minha falta de isenção jornalística.
Segundo ele, apenas dava voz aos ouvintes do sexo feminino e os temas
escolhidos revelavam uma tremenda homofobia. Estapafúrdio, dizia
para mim! Mas para o exterior resolvi o problema com a introdução
de uma música de intervenção social. E assim fechei o programa.
Peguei na mala, desci as escadas em direcção ao parque subterrâneo
e ao chegar junto do carro encontrei um segredo envenenado..."
“No
seu vestido vermelho delineado na pele, ela olhava-me intensamente
recostada no capô do meu carro, como um lince que espera a sua
presa. Por momentos o meu coração parou de bater. ‘Voltou…’,
pensei angustiantemente. Fantasmas do passado e segredos escondidos
no recanto mais negro do meu ser… Renascidos da minha cinza. Em
passos lentos, dirigi-me a ela. As palavras silenciosas do seu olhar
disseram-me para onde ela me levaria. Entrámos no carro seguindo
para o local temido…”
"...por ambos. Aquela
falésia onde, alguns anos antes, a tragédia se abatera sobre as
suas vidas alterou os seus futuros para sempre. E todos os anos, no
mesmo dia, encontravam-se antes do amanhecer, naquela pedaço de
rocha que se erguia sobre o mar, numa esperança vã de expiarem os
seus pecados mais profundos. Chegados ao local, saíram do carro e
mais uma vez, as suas mãos encontraram-se e uniram-se, os seus
corpos aproximaram-se e ela disse-lhe:"
"... Com a voz
tremida, sussurrada, gélida, com a postura hirta e consciente do
momento, Amanda começa a debitar desenfreadamente como tudo
aconteceu, naquela fatídica noite... ... "Não tive culpa! Não
tive! Acredita em mim, por favor! Foi um acidente. Foi ele que
escorregou da falésia, ele!" - Sedutora mas ao mesmo tempo
frágil, ela sabia exactamente como emaranhar um homem na sua teia.
Sabia exactamente a palavra certa a ser usada, o gesto proveniente, o
olhar mais assertivo para a ocasião. Manhosa, laça-o num envolvente
abraço onde o choro compulsivo é o senhor do momento. Entre soluços
mas, com uma voz doce, repete incessantemente, "não fui eu! Não
fui eu!" - Com o rosto apoiado no peito de Edmundo, via-se
claramente o sorriso dissimulado que fazia. Ele, estava completamente
rendido à fragilidade dela mas, ao contrário do que ela pensava,
que o tinha nas suas mãos, Edmundo, também tinha algo a dizer..."
"... acerca daquela
fatídica noite. Edmundo fixou o olhar na falésia e ficou em
silêncio por alguns segundos, enquanto os braços de Amanda o
envolviam. De repente, ficou tudo absolutamente claro na cabeça de
Edmundo, as peças do puzzle mental começavam a encaixar-se na
perfeição. Lembrou-se da conversa off record que tivera com o
inspector da polícia acerca do relatório da autópsia de Fred.
Segundo o mesmo relatório, Fred havia ingerido uma dose substancial
de whisky, confirmando assim o álibi de Amanda, de que Fred se
desequilibrara e caíra daquela falésia. Porém, fez-se luz e um
pormenor fulcral escapara a ambos: ao inspector da polícia e a
Amanda, mas não a Edmundo..."
"...isto porque Fred
não bebia whisky, sofria de doença celíaca, de modo que tudo o que
contivesse glúten, o que incluía bebidas feitas de malte, não lhe
passavam pela garganta. Por outro lado a revelação Fred fizera a
Edmundo um dia antes da tragédia era de todo desconcertante, tanto
mais que de dizia respeito aos três, sendo que conteúdo da mesma
tivera desde então um profundo impacto em Edmundo, ao ponto de o
mesmo perder parte da sua imparcialidade jornalística. Ainda assim,
envolto no choro soluçado de Amanda, Edmundo era incapaz de proferir
uma palavra, de partilhar com ela o que pensava porque havia mais um
elemento em jogo, uma dúvida perene que o levava a sentir-se tal
como o mar revolto e sem definição que vislumbrava no
horizonte..."
“Não
querendo mas ao mesmo tempo sem conseguir parar a maré das
lembranças chegou-lhe à memória aquela noite que hoje lhe dava o
conhecimento do facto de Fred não beber whisky. Fred confessou-lhe
num ousado momento de coragem que se sentia atraído por Edmundo e
que isso o deixava sem saber como agir pois nunca tinha sentido isso
por homem nenhum já que sempre fora um mulherengo por natureza! A
convivência dos dois, muito por culpa de Amanda, o lamber das
feridas causadas por esta mulher de escrúpulos nulos tinha feito com
que os sentimentos florescessem em dois homens que mesmo nada
indicando que assim fosse os levou a sentir o que para ambos deveria
ser tabu. Edmundo voltou a realidade com um soluço mais audível de
Amanda e quando à olhava no profundo dos seus olhos verdes deu-se
conta…”
"...deu-se conta do
quanto aquela mulher já havia sofrido. Fred horas antes de falecer
havia contado a Edmundo que Amanda aos 20 anos se havia submetido a
uma cirurgia de retribuição sexual. Sim, Amanda fora um menino em
outros tempos, mas hoje era aquilo a que Fred e Edmundo chamavam de
tentação. Edmundo olhava-a e um misto de sentimentos lhe assolavam
a mente, perdera alguém que lhe era muito próximo, um amigo, mas
também, um silencioso admirador. E ali, diante de seus olhos estava
a mulher indefesa e esbelta que soluçava e por quem ele era
estupidamente apaixonado, mas que carregava tão pesado segredo.
Segredo esse que toda a sociedade condenava e condena. Edmundo
perturbado necessita voltar, ir ao encontro do seu pedaço de chão
para meditar e montar todo aquele puzzle confuso. Suplicou-lhe -
"Amanda, necessito ir, vamos?". Amanda para ele olhou, com
olhar fugaz, e disse..."
"...És um homem
cruel senão me aceitas como sou. E se assim for sem dúvida que não
me mereces.Sou especial, sou única e estou disponível para te amar,
com tudo o que tenho para te oferecer, mas jamais partilharia a minha
vida ou o meu corpo, com quem olhasse para mim com desprezo ou nojo.
Sendo assim cuida-te, olha para ti, observa-te com atenção e vais
reparar em todos os teus defeitos... por agora vou apenas
embrulhar-me no teu casaco sentir o teu cheiro e o teu calor que são
presença nele e esperar que tu abras os olhos e possas ver para além
do físico, do estereotipo e do preconceito a mulher que hoje eu
sou...estou aqui, estarei sempre aqui para ti... de braços
abertos...anda, decide-te não tenho o tempo todo..."
"... Mas na cabeça
de Edmundo cada vez mais as dúvidas e as desconfianças se
instalaram. Havia demasiadas incongruências em torno daquela noite e
um relatório conivente com o que Amanda lhe dizia mas contrário ao
que conhecia de Fred, este jamais poderia ter bebido Whisky naquela
noite. Não estavam em causa os desejos que nutria por aquela mulher,
não se colocava em questão as mudanças de sexo, o que lhe
assolapava as ideias era tão somente o que teria sido capaz de fazer
aquela mulher de escrúpulos nulos, de vermelho vestida se soubesse
do que acontecera entre eles, não foi capaz de lhe dizer mais nada.
Levou-a a casa e naquele momento só uma coisa lhe ocorria, tinha de
estar com o inspector responsável pela investigação..."
"O encontro
perturbador, aliado ao adiantado da hora, tinha um efeito nefasto
sobre a sua lucidez. Conduzia como um autómato, a cabeça longe,
muito longe da estrada por onde os olhos passavam. Era de noite,
ainda. Para não enlouquecer durante as longas horas que antecediam a
manhã e a sua oportunidade de falar com o inspector, foi para casa,
tomou um banho tão quente quanto conseguiu tolerar e, ainda com o
cabelo a pingar água e a pele a fumegar vapor, sentou-se a escrever
a sua versão dos factos, a sua memória dos acontecimentos, caso
algo lhe acontecesse... Escreveu tudo, longamente, e concluiu com a
revelação do facto mais bem guardado:"
"Fred confessara-lhe
o ciúme que sentia de Amanda! Sem nunca lhe ter revelado, adivinhara
a paixão e o desejo que transpareciam nos seus olhos quando ela
aparecia em cena, naquele misto de sedução e de fragilidade que
tanto o cativavam. Parou de escrever. E se...? Não, não era
possível, que o amigo chegasse tão longe... Ele andava perturbado -
os credores avolumavam-se à sua porta! - mas suicidar-se?!? Deixando
no ar a suspeita de Amanda ser a culpada pela sua morte?!? Mas porquê
aquelas revelações súbitas e inesperadas, poucas horas antes
daquela fatídica noite? Era um plano macabro demais para ser
verdade..."
"Levantou-se, abriu
as janelas de par em par e, debruçado sobre o parapeito, olhou as
estrelas. Voltou para dentro apenas o tempo suficiente para apagar a
luz. Não havia luar e assim o céu ficava mais bonito. Acendeu um
cigarro, deu-lhe duas baforadas e voltou a contemplar as estrelas.
Com Amanda e Fred na cabeça, ia falando consigo próprio. Aos poucos
foi-se descontraindo no fumo do cigarro, na tentativa de ainda se
lembrar do nome das constelações. Aquela é a Ursa Menor, aquela a
Cassiopeia, aquela o Cão Maior. Raios! Porque não se lembrou antes
disso? Fez um telefonema para Irina. Ela costumava ficar com o cão
de Fred quando este se ausentava."
"A visita a casa de
Irina foi demorada e difícil para ambos. A conversa parecia não ter
nexo, com Irina a tentar explicar o inexplicável de aquela carta de
Fred só passados três anos aparecer. Irina estendera-lha com mãos
nervosas e foi com mãos nervosas que a Armando a recebera.
Despediram-se com o luto nos olhos e sem uma palavra. Na rua e,
depois, pelo caminho leu e releu o texto do sobrescrito cuja letra
lhe era familiar. Em casa, levou um tempo tremendo até vencer o medo
e abrir a carta que lhe era dirigida: Meu querido amigo, quando leres
estas linhas já terei partido. Não vos julgo nem culpo. E a haver
culpados culpo a indignidade que me foi dada por uma vida que já não
merece ser vivida. Não há uma só situação a explicar este meu
acto, que muitos considerarão tresloucado. Foi tudo. Foi a minha
incapacidade de vos amar. Foi a minha confusa sexualidade. Foram as
dívidas acumuladas. Foi o desemprego e a incapacidade de encontrar
alternativas. Foi a minha marginalização no partido. Foi tudo isso
e ainda..."
" Fez uma pausa na
leitura para macerar uma lágrima teimosa e acalmar o lamento que se
contorcia no seu coração, agora que a tese do suicídio lhe parecia
ganhar consistência.
Pobre Fred! – pensava -
Como fora possível ter chegado a tal estado de desespero sem que
ele, seu amigo íntimo, se tivesse apercebido? O mundo está
inquinado de indiferença. O mundo, o mundo... Mas que mundo? As
pessoas são o mundo, o mundo é as pessoas e, cada uma delas, um
fragmento fraco de um todo forte, mas incompreensivelmente ignorado.
Edmundo deixou cair os
olhos húmidos sobre a folha de papel que lhe ficara esquecida nas
mãos e continuou a ler:
Foi tudo isso e ainda
alguma coisa inominável e paralisante. Algo que não me permite
lutar contra o medo. O medo da solidão, o medo de ver, de vislumbrar
mais uma manhã sem esperança nem projectos…
O longo e estridente
“trimmmm” da campainha que subitamente encheu a casa, fê-lo
estremecer. Pousou a carta na estante, entre os livros e dirigiu-se
para a porta sem disfarçar um gesto de desagrado. "
"Ao abrir a porta não
conseguiu disfarçar o espanto. “ O Senhor aqui, Inspector
Madureira?” - O inspector reparou no semblante cansado e
transtornado daquele homem que lhe franqueava a entrada. “ Bom dia,
Edmundo! Não se assuste, estou aqui no seguimento da investigação
da morte de Fred Campos, ou melhor, do homicídio do seu amigo. Temos
razões para acreditar que o senhor, neste momento, corre risco de
vida.” – Edmundo sentiu-se perdido no meio de tantas dúvidas e
revelações. Tudo lhe parecia cada vez mais confuso e surreal. “
Não, não, inspector! Fred suicidou-se. Tenho aqui a carta que o
comprova” – e dito isto, foi buscar a carta que tinha pousado na
estante e que não acabara de ler. Madureira agarrou nela com
curiosidade e leu-a demoradamente. “ Onde estava esta carta?” –
perguntou. Edmundo explicou-lhe como Irina a tinha encontrado, só
agora, deixada por Fred dentro de um livro que ela lhe havia
emprestado. “ Está a ver, Fred queria suicidar-se...” “ Pois
queria..."- anuiu o inspector. "... mas temo que isso não
tenha chegado a acontecer, meu amigo. Há detalhes da investigação
que você desconhece e esta carta pode explicar muita coisa. Venha
comigo até à judiciária, vou precisar de si !"
A viagem decorreu entre
pensamentos elípticos. Por muito que a memória desse voltas e mais
voltas, estas iam sempre ter a duas questões: o ciúme de Fred em
relação a Edmundo e Amanda e a carta de suicídio. Ou não?... Se
há um momento na vida em que nos censuramos a nós mesmos, o de
Edmundo foi esse preciso momento em que se deu conta que, por muito
afeto que nutrisse por Fred, por muita intimidade que tenham
partilhado, Edmundo não conseguia lembrar-se da caligrafia de Fred
ou, sequer, se alguma vez a conhecera. Como era possível prezar
alguém da forma que ele prezara Fred, que fazia com que um pouco de
si tivesse morrido com ele, e não saber, sequer, se alguma vez
conhecera a sua letra? Rapidamente teve de voltar ao presente, pois o
velho Peugeot 306 acabava o seu percurso, junto às instalações da
Judiciária.
...
E nas instalações da Judiciária, Edmundo foi confrontado com uma
cópia da carta de 'suicídio' de Fred. Aliás, com várias cópias.
Era preciso descortinar qual era a original, mas isso era fácil para
os analistas da Judiciária: rapidamente chegaram à conclusão que a
carta tinha sido escrita por... Edmundo! Mas, se a carta estava de
posse de Edmundo, como teria sido possível multiplicar-se de tal
maneira que apareceu nas mãos de várias pessoas ligadas ao
processo? Quem era afinal o assassino? Teria sido mesmo suicídio e
Fred ter-se-ia preocupado em 'despistar' o seu próprio suicídio
enviando cartas iguais para várias pessoas? O drama adensava-se
quando....
O
inspector Madureira voltou a entrar na sala e perguntou: “Então, o
que me diz?”
E
Edmundo ficou sem saber o que responder...Não entendia nada; a letra
era a sua, de facto. A não ser que Fred a tivesse imitado...Só
podia ser isso e foi o que tentou explicar ao inspector Madureira, que
abanou a cabeça e disse “Não, meu amigo, os analistas confirmam que a
letra é sua!”
Passo este desafio à Luz - Blog "Luzes e Luares" (http://luzeseluares.blogspot.pt/)
quinta-feira, outubro 18, 2012
ENTRE O CÉU E A TERRA
Estou aqui
No limite, na fronteira
Entre o Céu e a TerraNo limite, na fronteira
No Céu,
comando a minha Vida
Na Terra.....comando a minha Vida
Não tenho a certeza...
Foto de José Alex Gandum
segunda-feira, outubro 15, 2012
NO AZUL
Hoje inspiro-me no azul
No contraste entre a paz e a fúria
Ou o simples mergulhar do corpo no mar
Esquecer o ontem
O hoje, também
Por escassos momentos….
FOTO DE JOSÉ ALEX GANDUM
quinta-feira, outubro 11, 2012
ABRAÇO DO VENTO
Diz
Que sou
perfeito
Diz
Quero
ouvir a tua voz
Sentir a
magia da chuva
O
abraço do Vento
No
beijo com que te despedes de mim
FOTO
DE JOSÉ ALEX GANDUM
domingo, outubro 07, 2012
REFLEXOS DOS ESPELHOS
Imagem
da Net
Há
histórias
escritas
nos reflexos dos espelhos
Histórias
fantásticas, mágicas
sobre
loiras princesas
gatas
felpudas e meninas traquinas
Há fadas
madrinhas,
duendes
verdes,
bruxas más
e
caldeirões cheios de sapos
Há
lutas até à morte
E o
príncipe vence sempre o dragão
Há o meu
sonho
em cada
uma dessas histórias
Mas, só
às vezes, venço o dragão....
quinta-feira, outubro 04, 2012
MEMÓRIAS FELIZES E DIAS TRANQUILOS
FOTO DE JOSÉ ALEX GANDUM
Espero…
O quê….não
sei…
Não sei
se
são memórias do Vento
Ou memórias
minhas
de tempos
idos…
De dias
tranquilos e sonhos felizes
Um dia,
vou desistir
de esperar,
compreender
ou desejar…
Esses sonhos,
esses dias
tranquilos
Não hoje....
Não me peçam
isso HOJE.....
terça-feira, outubro 02, 2012
COISAS SIMPLES
Se
quisesse,
podia
falar sobre o dia em que te conheci
Podia
escrever
uma história com um final feliz...
Falar
sobre
momentos loucos e insensatos
Ser
eu
própria
louca
e insensata...
Podia
mas
não quero...
Quero
apenas
o encanto das coisas simples....
“Beachside
stroll” by Daeni Pino
quinta-feira, setembro 27, 2012
SARJETA
Escreve-me uma história de amor
Na transparência do vidro
Enquanto te sigo no trilho,
já aberto pelas outras gotas,
até à sarjeta
Escreve-me
Faz com que me sinta especial
Antes que eu desapareça
Na água suja
que se acumula na sarjeta…
FOTO DE JOSÉ ALEX GANDUM
terça-feira, setembro 25, 2012
VOAR PARA SUL
FOTO DE JOSÉ ALEX GANDUM
Voo para Sul...
Expulsa pela brisa...
Pelo prenúncio das primeiras chuvas...
Não sei porque voo para Sul
Em direcção ao Sol, dizem
Mas o Sol está diferente....
Talvez porque o Mundo está cansado...
Como eu estou cansada
De fazer este longo voo até ao Sul
Até encontrar o Sol,
a única coisa que me separa da chuva e do Vento
Nunca do olhar ferido dos outros.....
Expulsa pela brisa...
Pelo prenúncio das primeiras chuvas...
Não sei porque voo para Sul
Em direcção ao Sol, dizem
Mas o Sol está diferente....
Talvez porque o Mundo está cansado...
Como eu estou cansada
De fazer este longo voo até ao Sul
Até encontrar o Sol,
a única coisa que me separa da chuva e do Vento
Nunca do olhar ferido dos outros.....
sábado, setembro 22, 2012
IRRESÍSTIVEL
Sou atrevido....
Muito atrevido....
E IRRESÍSTIVEL...
Pois quem não gosta de um bebé
simpático como eu???
Lá estou eu a vangloriar-me
O que não é bonito, eu sei....
Mas o que querem que faça?
Se me sinto irresístivel.....
Foto da “Pour le Plaisir des Yeux”
terça-feira, setembro 18, 2012
DIA PERFEITO
Hoje,
o dia é perfeito
Para amar..
Para escrever..
Ou não fazer nada
Apreciar apenas as cores do Vento
Porque gosto de pensar que o
Vento tem cores
AUTOR DESCONHECIDO
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