O SEDUTOR Relaxo com uma chávena de café na mão. Deixo que esse cheiro agridoce me domine e fujo da manhã cinzenta, da chuva aborrecida, do vento frio. Não sei se estou no Brasil ou no Taiti ; estou onde o sonho me leva e tudo é diferente. Até o ritmo, o sorriso e, sobretudo, o desejo. Esse desejo incontrolável que aprisiona os sentidos e torna a vida banal. Apressada e insignificante! Ou talvez seja eu quem é insignificante! Não sei... Neste momento, não penso em nada. Saboreio o café com todo o tempo do Mundo. Sei que tenho que voltar, entrar novamente naquele escritório desarrumado e sorrir serenamente. Como se fosse surda, imune ao veneno escondido em cada uma das palavras que ali se pronuncia. Não conheço tais palavras; as minhas podem soar banais e frouxas, mas, pelo menos, fui eu quem as escolheu e lhes deu tempo e espaço. Não o café; deixo que seja ele a seduzir-me, a consolar-me e até os meus segredos já lhe confessei. Tenho pena de deixar o café barulhento, o calor human