quinta-feira, dezembro 29, 2011

O TEMPO

As pessoas não vêm para o abandono da rua
para serem felizes, só se for com um copo na mão
para festejarem uma passagem de ano. As pessoas
atravessam a ponte que separa duas vidas, ou dois modos
de vida, porque não têm alternativa, porque é este
o caminho que lhe resta.
E depois ninguém as vem procurar nem chamar à razão
para que reconsiderem e regressem.
Ninguém regressa, ao fim e ao cabo."

Extracto do livro de José Jorge Letria
"Coração sem abrigo" (recomendo a sua leitura)

O meu comentário???
É apenas mais um rosto...
Ninguém o trata mais pelo nome,
porque, e utilizando a expressão do autor,
ao fim e ao cabo,
temos medo de que
não haja mesmo alternativa.
E sejamos nós, um dia,
aquele rosto sujo
e com a dor espelhada nos olhos...
O que eu espero???
Que haja uma alternativa
 e que ninguém mais atravesse essa ponte...
Os melhores votos para 2012.....

sexta-feira, dezembro 23, 2011


Com os desejos de Boas Festas...
Com a voz de Marisa Monte....
Não foi um ano fácil para mim...
Mas vamos continuar a voar por aqui,
pelo meu outro blog...
Sempre....

sábado, dezembro 17, 2011

BRAMIDO DO MAR

Adoro seduzir-te,
e encantar a noite.
Esta noite,
confundo-te.
Deixo-te completamente só.
Apenas as velas estão acesas
e a lingerie espalhada pelo chão.
Num cenário,
em nada exagerado.
Muito banal, até.
Mas porque não estou aqui,
nua em frente à lareira,
com um copo de vinho na mão?
Onde estou?
A sentir a fúria do mar.
Não o vejo da janela do quarto.
Cheiro-o,
no entanto.
Um cheiro forte,
a algas e a espuma,
cinzenta e cerrada.
Hoje, quero que me ames,
ouvindo, ao longe,
o bramido do mar...

Poema de minha autoria,
publicado no meu blog principal em 2009
A razão porque o partilho hoje convosco
é porque foi escolhido e publicado num livro colectivo,
que se chama "Entre o Hoje e o Amanhã"
e cujo lançamento foi hoje, na Casa do Infante, no Porto.
Foi um presente de Natal inesperado,
foi a primeira vez que publiquei
e estou muito feliz....



quinta-feira, dezembro 01, 2011

SILÊNCIO

Os Justos

Um homem que cultiva o seu jardim, como queria Voltaire.

O que agradece que na terra haja música.
O que descobre com prazer uma etimologia.
Dois empregados que num café do Sul jogam um silencioso xadrez.
O ceramista que premedita uma cor e uma forma.
O tipógrafo que compõe bem esta página, que talvez não lhe agrade.
Uma mulher e um homem que lêem os tercetos finais de certo canto.
O que acarinha um animal adormecido.
O que justifica ou quer justificar um mal que lhe fizeram.
O que agradece que na terra haja Stevenson.
O que prefere que os outros tenham razão.
Essas pessoas, que se ignoram, estão a salvar o mundo.


Jorge Luis Borges, in "A Cifra"
Tradução de Fernando Pinto do Amaral


domingo, novembro 20, 2011

MOMENTO

Nostalgia do Presente



Naquele preciso momento o homem disse:
«O que eu daria pela felicidade
de estar ao teu lado na Islândia
sob o grande dia imóvel
e de repartir o agora
como se reparte a música
ou o sabor de um fruto.»
Naquele preciso momento
o homem estava junto dela na Islândia.


Jorge Luis Borges, in "A Cifra"
Tradução de Fernando Pinto do Amaral
 

domingo, novembro 13, 2011

E PORQUE NÃO???

Houve uma Ilha em Ti

Houve uma ilha em ti que eu conquistei.
Uma ilha num mar de solidão.
Tinha um nome a ilha onde morei.
Chamava-se essa ilha Coração.


Que saudades do tempo que passei.
Nenhum desses momentos foi em vão.
Do teu corpo, de ti, já nada sei.
Também não sei da ilha, não sei, não.


Só sei de mim, coberto de raízes.
Enterrei os momentos mais felizes.
Vivo agora na sombra a recordar.

A ilha que eu amei já não existe.
Agora amo o céu quando estou triste
por não saber do coração do mar.

Joaquim Pessoa, in 'Ano Comum'






segunda-feira, novembro 07, 2011

PROFERIDA

Sou a Tua Casa

Sou a tua casa, a tua rua, a tua segurança, o teu destino. Sou a maçã que comes e a roupa que vestes. Sou o degrau por onde sobes, o copo por onde bebes, o teu riso e o teu choro, o teu frio e a tua lareira. O pedinte que ajudas, o asilo que te quer acolher. Sou o teu pensamento, a tua recordação, a tua vontade. E também o artesão que para ti trabalha, o medo que te perturba e o cão que te guia quando entras pela noite. Sou o sítio onde descansas, a árvore que te dá sombra, o vento que contigo se comove. Sou o teu corpo, o teu espírito, o teu brilho, a tua dúvida. Sou a tua mãe, o teu amante, o marfim dos teus dentes. E sou, na luz do outono, o teu olhar. Sou a tua parteira e a tua lápide. Os teus vinte anos. O coração sepultado em ti. Sou as tuas asas, a tua liberdade, e tudo o que se move no teu interior. Sou a tua ressaca, o teu transtorno, o relógio que mede o tempo que te resta. Sou a tua memória, a memória da tua memória, o teu orgulho, a fecundação das tuas entranhas, a absolvição dos teus pecados. O teu amuleto e a tua humildade. Sou a tua cobardia, a tua coragem, a força com que amas. Sou os teus óculos e a tua leitura. A tua música preferida, a tua cor preferida, o teu poema preferido. Sou o que significas para mim, a ternura que desagua nos teus dedos, o tamanho das tuas pupilas antes e depois de fazer amor. Sou o que sou em ti e o que não podes ser em mim. Sou uma só coisa. E duas coisas diferentes.


Joaquim Pessoa, in 'Ano Comum'









segunda-feira, outubro 17, 2011

SÁBIO AMOR

“...pois o Amor é mais sábio do que a Filosofia,

por mais sábia que esta seja: e é mais forte do que
o poder, por mais poderoso que este seja.Tem asas cor de fogo
e cor de fogo tem o seu corpo. Há uma doçura de mel nos
seus lábios e o seu hálito lembra o incenso”


Extracto do Conto de Oscar Wilde “O Rouxinol e a Rosa”



O Com Amor talvez volte nestes moldes...
Uma citação,
um poema que goste,
com um video.
Poderei escrever um comentário
ou só pedir o vosso...
O desafio de hoje é esse:
Comentem este excerto do conto de Oscar Wilde

sábado, outubro 08, 2011

SEM COMENTÁRIOS

Video de "Amor Electro - A Máquina"

digo que te amo

sorris e eu amo, digo que te quero

sorris e eu quero, dizes em sonhos

em sonhos que já tive, onde desejei ser céu sol e

estrelas para que te pudesse olhar eternamente.



"Digo que te amo"
Poema de Jorge Reis Sá
in "A Palavra no Cima das Águas"










sexta-feira, setembro 30, 2011

SER FORTE

Sei que não dormiste bem hoje...
Por minha causa, filha?
Mas porquê, se estou bem?
Se estou a zelar por ti,
tal como te disse o teu amigo
quando te abraçou
e te deixou chorar???
Porque tens que chorar, filha
e não te preocupes com os outros,
sempre a dizerem que tens que ser “forte”...
Chora o tempo que quiseres: eu escuto-te.
Sei que nem sempre te compreendi,
não te deixei voar como devia....
Mas, filha,
trataste-me sempre como um rei;
deixaste-me partir em paz e com dignidade....
E isso é a melhor prenda que alguma vez me deste.....


Em memória do meu Pai
15/6/1922 - 30/7/2011

Poema de minha autoria
e dedicado à memória do meu Pai

O "Com Amor" ficará em suspenso algum tempo;
com a morte do meu Pai,
iniciou-se uma nova fase,
um novo ciclo de vida.
Não é um "adeus"; é um "até breve".
Obrigada pela companhia;
ajudaram-me...
A dor está cá,
mas a vossa companhia atenuou-a.

segunda-feira, setembro 19, 2011

VESTIR

Quero-te, como se fosses

a presa indiferente, a mais obscura

das amantes. Quero o teu rosto

de brancos cansaços, as tuas mãos

que hesitam, cada uma das palavras

que sem querer me deste. Quero

que me lembres e esqueças como eu

te lembro e esqueço; num fundo

preto e branco, despida como

a neve matinal se despe da noite,

fria, luminosa,

voz incerta de rosa.



"Poema de Amor para Uso Tópico"

de Nuno Júdice in "Poesia Reunida"

 
O meu comentário???
Nada é incerto....
Ou é?
Não sei....
sei que não te esqueço....
Sei como te quero...
Ás vezes, não o sei dizer...
Hesito na escolha das palavras
e procuro as dos outros...
Mas estas são minhas...
Não as esqueças....
não as lembres...
Veste-as.....

quinta-feira, setembro 15, 2011

PRESENTE INTENSO

Amei a tua inquietação; e disseste-me que
te amei sem saber porquê, que as marés anunciavam
o luar que não chegou, que não foi preciso
olhar o fundo transparente das palavras
para que a sua verdade nos tocasse, que a tua mão
colheu o fruto da primeira árvore sem que nada
o impedisse.

Amei-te sem ter a certeza da manhã, sem ouvir
o vento que fez bater as janelas num eco do passado,
sem correr as cortinas do mundo para que
ninguém nos visse, sem apagar do teu rosto
o brilho da vida, enquanto as aves dormiam,
e o licor do sonho se derramava sobre os corpos
que cortavam a noite.

Mas ao seguir o seu rumo, o azul
floresceu das cinzas, a música despontou
dos silêncios da madrugada, e os teus olhos
amanheceram quando me disseste que
te amei, sem saber porquê.

NUNO JÚDICE

O meu comentário????
Amei porque te amei
naquele momento....
Com o que tenho
de mais precioso....
Porque é assim que eu vivo o amor....
Existe em mim....
Na verdade de quem sou....
Eu, que te amo
com a única certeza
que tenho na vida....
Amar-te
e dar-te tudo de mim....
Num presente intenso....

sexta-feira, setembro 09, 2011

ENCAIXE

O gesto mais simples,
capaz de ordenar tudo,
foi o que não fizemos

"Explicatio" de José Mário Silva

O meu comentário???
De que nos arrependemos...
Porque nada
mais havia a dizer,
a fazer....
Anda-se às voltas,
com longas explicações,
planos complicados....
E basta apenas
uma palavra...
Para que tudo
encaixe no seu lugar....
Porque,
até o amor tem um lugar...

terça-feira, setembro 06, 2011

ENCANTO

Amar Teus Olhos

Podia com teus olhos
escrever a palavra mar.
Podia com teus olhos
escrever a palavra amar
não fossem amor já teus olhos.

Podia em teus olhos navegar
conjugar os verbos dar e receber.
Podia com teus olhos
escrever o verbo semear
e ser tua pele
a terra de nascer poema.

Podia com teus olhos escrever
a palavra além ou aqui
ou a palavra luar,
recolher-me em teus olhos de lua
só teus olhos amar.

Podia em teus olhos perder-me
não fossem, amor, teus olhos,
o tempo de achar-me.

Carlos Melo Santos, in "Lavra de Amor"

O meu comentário???
Ou nada dizer...
Os olhos dizem tudo aquilo
em que nos perdemos...
Uma história verdadeira....
Os olhos encontram-se,
encantam-se....
Uma história de amor
escreve-se nos olhos....
Falam-te de amor, paixão, desejo,
de perdão, de raiva...
Ou de uma tristeza tão profunda,
da qual podem
nunca se despedir....
Mesmo que os ames
 com todo o teu ser....

quarta-feira, agosto 31, 2011

SECRETO

Espelho retrovisor

Quando olho para
trás, nem sempre
sei que tempo se
esconde nestes
versos.

de José Mário Silva

O meu comentário???
O teu tempo...
O que recordas...
O que amas...
Os teus pensamentos...
Desejos secretos,
 talvez....
Não sei....
Tudo o que torna mais feliz....
Porque é o verso
que tu escreves...
Com toda a tua alma...
Com todo o teu coração....

segunda-feira, agosto 29, 2011

A REALIDADE

A partir daqui,
não sabemos nada

"Terra incognita" de José Mário Silva

O meu comentário???

Sim, o que sabemos realmente???
Atravessamos todo um deserto
 à procura de água...
De amor,
de sabedoria???
De quê???
O que deixamos
para trás na realidade???
E o que vamos aprender
a partir de agora???


quarta-feira, agosto 24, 2011

INTRUSA

Bastava-nos amar. E não bastava

Bastava-nos amar. E não bastava

o mar. E o corpo? O corpo que se enleia?

O vento como um barco: a navegar.

Pelo mar. Por um rio ou uma veia.

Bastava-nos ficar. E não bastava

o mar a querer doer em cada ideia.

Já não bastava olhar. Urgente: amar.

E ficar. E fazermos uma teia.

Respirar. Respirar. Até que o mar

pudesse ser amor em maré cheia.

E bastava. Bastava respirar

a tua pele molhada de sereia.

Bastava, sim, encher o peito de ar.

Fazer amor contigo sobre a areia.

De Joaquim Pessoa
 
O meu comentário???
E esquecer tudo....
Porque nos esquecemos de tudo....
Na areia
em que o nosso corpo fica esculpido...
Antes da maré cheia,
antes da Lua aparecer nua
e incidir sobre os nossos corpos....
E nos unir ainda mais......
Porque, hoje, é uma intrusa....
A praia é nossa...
 

domingo, agosto 21, 2011

CHEIRO

Estes pequenos pensamentos são pequenas orações

Estes pequenos pensamentos são pequenas orações

de fidelidade ao teu corpo. Quem dera

que escutasses, destas horas, o cantar do sul,

as persianas do vento debaixo das estrelas,

os meus passos lá fora sobre a relva, junto

a uma imensa rosa de água azul.

Está tão quieto o ar. Tão sem ar o ar,

que o amor sufoca. A cama tem apenas

o aroma dos pinheiros por lençol. Sobre a pele dos mares,

a curva dos teus lábios, nenhuma brisa sopra.

No umbral da porta a manhã aguarda o teu sorriso,

esse jeito de acordar os pássaros do sol.

No pequeno jardim, entre as rápidas chamas da sardinheira

e o fresco ardor da madressilva,

as abelhas procuraram já o teu perfume.

de Joaquim Pessoa
 
O meu comentário????
São os desejos escondidos no vento...
Nas folhas que se espalham pelo jardim....
Na tranquilidade do gesto,
porque amar-te
é a essência da tranquilidade....
Como o jardim é o segredo
 da minha inspiração...
Onde ouço tudo,
todos têm algo a dizer....
Sem se importar com as horas.....
Apenas esse cheiro
que desliza em nós....
Será que amar tem cheiro????

sexta-feira, agosto 19, 2011

CALOR HUMANO

Quero-te para além das coisas justas


Quero-te para além das coisas justas

e dos dias cheios de grandeza.

A dor não tem significado quando ma roubam as árvores,

as ágatas, as águas.

O meu sol vem de dentro do teu corpo,

a tua voz respira a minha voz.

De quem são os ídolos, as culpas, as vírgulas

dos beijos? Discuto esta noite

apenas o pudor de preferir-te

entre as coisas vivas.

de Joaquim Pessoa

O meu comentário????
Amar-te simplesmente...
Por esse facto....
Que não exige explicações....
Muito menos discussões
pela noite dentro....
Em que és meu....
Total,
completamente....
Acordada, a dormir,
mas sinto-te no meu corpo....
Quero que me olhes....
Que me descrevas,
vezes sem conta
no teu olhar....
E saibas que
quem está nos teus braços....
Não é apenas uma coisa viva....
É puro calor humano....

quarta-feira, agosto 17, 2011

GLÓRIA

Meu amor por quem parto. Por quem fico. Por quem vivo.

Teus olhos são da cor do sofrimento.

Amor-país.

Quero cantar-te. Como quem diz:

O nosso amor é sangue. É seiva. E sol. E primavera.

Amor intenso. Amor imenso. Amor instante.

O nosso amor é uma arma. E uma espera.

O nosso amor é um cavalo alucinante.

O nosso amor é um pássaro voando. Mas à toa.

Rasgando o céu azul-coragem de Lisboa,

Amor partindo. Amor sorrindo. Amor doendo.

O nosso amor é como a flor do aloendro.

Deixa-me soltar estas palavras amarradas

Para escrever com sangue o nome que inventei.

Romper. Ganhar a voz duma assentada.

Dizer de ti as coisas que eu não sei.

Amor. Amor. Amor. Amor de tudo ou nada.

Amor-verdade. Amor-cidade.

Amor-combate. Amor-abril.

Este amor de liberdade.

JOAQUIM PESSOA

O meu comentário???
O meu amor por ti...
Eu pessoa, eu País....
Mas nada invento....
Porque eu pessoa,
eu País existo....
Por vezes calado,
outras em guerra.....
Não parto.....
não devo partir....
Fico....
Por ti.....
Pessoa, País....
não importa...
Amar que nunca é demais....
Nas sombras....
nos Ventos.....
Sobretudo, no teu,
no meu coração.....
No sangue,
na glória que é estar vivo.....

sábado, agosto 13, 2011

LAMENTOS

E só agora
tu e eu sabemos
da urgência
do amor.

Polido,
sem fissuras

de Eduardo Pitta

O meu comentário???

E porquê só agora?
Porque não antes???
Mas o que era o "antes"?
Não importa saber....
Temos que viver o amor...
Urgentemente....
Porque amanhã
podemos não estar cá....
E ficamos apenas
com os lamentos....
Com uma culpa pesada
que nunca se separa de nós.....

quarta-feira, agosto 10, 2011

LEMBRANÇA

A um Jovem Poeta

Procura a rosa.

Onde ela estiver
estás tu fora

de ti. Procura-a em prosa, pode ser
que em prosa ela floresça
ainda, sob tanta



metáfora; pode ser, e que quando
nela te vires te reconheças



como diante de uma infância
inicial não embaciada

de nenhuma palavra
e nenhuma lembrança.



Talvez possas então
escrever sem porquê,
evidência de novo da Razão
e passagem para o que não se vê.


Manuel António Pina,
in "Nenhuma Palavra e Nenhuma Lembrança"

O meu comentário????
Mas escreve...
A tua verdade,
a tua loucura...
Na poesia das estrelas,
na prosa de desafio...
Serve-te
das tuas lembranças
felizes
para escreveres feliz...
Fazeres sorrir os outros...
E neles deixares o teu nome...

sexta-feira, agosto 05, 2011

VER-TE

Atravesso o bosque
de castanheiros
pisando o manto das folhas
levadas pelo vento
no príncipio de outono.

Fecho a cancela  de madeira do jardim
e lavo o rosto para entrar em casa.

Esta noite
dormirei à luz das velas
se for preciso

de Carlos Saraiva Pinto

O meu comentário???
Simplesmente...
Ver-te.....
Esconder-te
 o desejo do meu corpo...
Mas, ao mesmo tempo,
ansiosa por to revelar...
Num abraço....
Ao abrigo da brisa de outono...
Num suspiro,
contra a pele quente
do teu peito....
E no olhar,
a luz do prazer....
De amar-te...


terça-feira, agosto 02, 2011

CINZAS

Pergunta-me
se ainda és o meu fogo
se acendes ainda
o minuto de cinza
se despertas
a ave magoada
que se queda
na árvore do meu sangue

Pergunta-me
se o vento não traz nada
se o vento tudo arrasta
se na quietude do lago
repousaram a fúria
e o tropel de mil cavalos

Pergunta -me
se te voltei a encontrar
de todas as vezes que me detive
junto das pontes enevoadas
e se eras tu
quem eu via
na infinita dispersão do meu ser
se eras tu
que reunias pedaços do meu poema
reconstruindo
a folha rasgada
na minha mão descrente

Qualquer coisa
pergunta-me qualquer coisa
uma tolice
um mistério indecifrável
simplesmente
para que eu saiba
que queres ainda saber
para que mesmo sem te responder
saibas o que te quero dizer


MIA COUTO

Raiz de Orvalho e outros poemas

O meu comentário???
Não quero perguntar nada....
Não há respostas
ao que é indecifrável...
Ao que nos percorre as veias.....
Ao que não o sabemos
dizer em palavras....
Essas palavras
reduzidas a cinzas
e esquecidas
no nevoeiro cerrado
que sobe do mar.....