PROFERIDA
Sou a Tua Casa
Sou a tua casa, a tua rua, a tua segurança, o teu destino. Sou a maçã que comes e a roupa que vestes. Sou o degrau por onde sobes, o copo por onde bebes, o teu riso e o teu choro, o teu frio e a tua lareira. O pedinte que ajudas, o asilo que te quer acolher. Sou o teu pensamento, a tua recordação, a tua vontade. E também o artesão que para ti trabalha, o medo que te perturba e o cão que te guia quando entras pela noite. Sou o sítio onde descansas, a árvore que te dá sombra, o vento que contigo se comove. Sou o teu corpo, o teu espírito, o teu brilho, a tua dúvida. Sou a tua mãe, o teu amante, o marfim dos teus dentes. E sou, na luz do outono, o teu olhar. Sou a tua parteira e a tua lápide. Os teus vinte anos. O coração sepultado em ti. Sou as tuas asas, a tua liberdade, e tudo o que se move no teu interior. Sou a tua ressaca, o teu transtorno, o relógio que mede o tempo que te resta. Sou a tua memória, a memória da tua memória, o teu orgulho, a fecundação das tuas entranhas, a absolvição dos teus pecados. O teu amuleto e a tua humildade. Sou a tua cobardia, a tua coragem, a força com que amas. Sou os teus óculos e a tua leitura. A tua música preferida, a tua cor preferida, o teu poema preferido. Sou o que significas para mim, a ternura que desagua nos teus dedos, o tamanho das tuas pupilas antes e depois de fazer amor. Sou o que sou em ti e o que não podes ser em mim. Sou uma só coisa. E duas coisas diferentes.
Joaquim Pessoa, in 'Ano Comum'
Comentários
Sou um cavaleiro sem cavalo
Que monta o sonho e a miragem.
Percorro o mundo na procura
Da visão que ninguém vê.
Onde está a sombra adivinhada,
Onde encontrar a fantasia que anseio,
O sorriso no rosto sempre belo
Da mulher imaginada,
Em minhas noites doridas de solidão?!
Onde está aquela por quem sofro,
E que adormece a meu lado
Nas noites de luar,
E nas noites escuras de tormenta?!
Sei que está à minha espera
E que quer tocar-me, num amor
Pressentido mais do que sentido
Como golpe de vento violento
E como tempestade de areia no deserto.
Vem correr ao meu encontro!
Os meus braços estão à tua espera
E meus passos serão teu caminhar,
Num desejo comum de comunhão.
Vem minha visão descobrir
O que ambos podemos construir!
Vem tornar visível a noite mais escura
Como se fora dia luminoso.
Vem enfrentar a procela que assola a humanidade;
Combater a indiferença
Dos que não sentem nem querem,
E enfrentar os que odeiam e desprezam;
Dar alguma alegria aos tristes
E sorte aos desafortunados
E oferecer algum amor aos que não amam.
E assim... juntos… daremos algum sentido
Às lágrimas deste mundo.
Apreciei o vídeo e, sobretudo, adorei a prosa do inefável Joaquim Pessoa.
Beijos
Lindo.
Bjito amigo e uma flor, querida Marta.
BShell