A QUEM ENCONTRAR ESTA CARTA,
não importa quem ou quando, leiam-na.
Sou louca por pedir isso, mas há anos que vivo num Mundo paralelo, em que o nome e o tempo não contam.
Escrever é uma boa terapia e é mais fácil viver nas minhas histórias do que contemplar as paredes brancas do hospital.
Ás vezes, vou até ao jardim, mas a enfermeira vem sempre comigo e eu aborreço-me com a sua presença controladora.
Há quantos anos estou cá? Não sei...
Porquê? Também já não me lembro; sei que tive um marido e uma filha e que um dia deixaram-me aqui.
Sem qualquer explicação...
A minha doença é um nome complicado que nunca fixei e com os anos, tornou-se tão parte de mim que não sei onde está o “eu” pessoa e o “eu” doente.
E é o que eu procuro – a minha identidade como pessoa.
Aqui sou um número, uma cama na enfermaria, um lugar na fila para o refeitório.
Por isso, é que peço que leiam a carta e me ajudem a saber quem fui.
Onde nasci, onde vivi e o que aconteceu para me prenderem aqui.
Leiam também as minhas histórias, vejam os meus desenhos; talvez encontrem alguma pista...
E mostrem-me o Mundo...
Contem-me como é o Mundo lá fora...
Texto escrito em Setembro de 2014 e publicado na Colectânea "Cartas" organizada pela Editora "Lua de Marfim"
O desafio é simples:
Tal como pedido, falem sobre o Mundo, contem como é o Mundo num pequeno poema, num pequeno texto...
Sejam loucos, sejam mais que um nº , sejam pessoas....
Boa Sorte...