A QUEM ENCONTRAR ESTA CARTA, não importa quem ou quando, leiam-na. Sou louca por pedir isso, mas há anos que vivo num Mundo paralelo, em que o nome e o tempo não contam. Escrever é uma boa terapia e é mais fácil viver nas minhas histórias do que contemplar as paredes brancas do hospital. Ás vezes, vou até ao jardim, mas a enfermeira vem sempre comigo e eu aborreço-me com a sua presença controladora. Há quantos anos estou cá? Não sei... Porquê? Também já não me lembro; sei que tive um marido e uma filha e que um dia deixaram-me aqui. Sem qualquer explicação... A minha doença é um nome complicado que nunca fixei e com os anos, tornou-se tão parte de mim que não sei onde está o “ eu” pessoa e o “eu” doente. E é o que eu procuro – a minha identidade como pessoa. Aqui sou um número, uma cama na enfermaria, um lugar na fila para o refeitório. Por isso, é que peço que leiam a carta e me ajudem a saber quem fui. Onde nasci, onde vivi e o que aconteceu para me prenderem ...