sexta-feira, julho 25, 2008

SAUDADE

Desaparecido


Sempre que leio nos jornais:
«De casa de seus pais desapar’ceu...»
Embora sejam outros os sinais,
Suponho sempre que sou eu.


Eu, verdadeiramente jovem,
Que por caminhos meus e naturais,
Do meu veleiro, que ora os outros movem,
Pudesse ser o próprio arrais.


Eu, que tentasse errado norte;
Vencido, embora, por contrário vento,
Mas desprezasse, consciente e forte,
O porto do arrependimento.


Eu, que pudesse, enfim, ser eu!
- Livre o instinto, em vez de coagido.
«De casa de seus pais desapar’ceu...»
Eu, o feliz desaparecido!


Carlos Queirós


O meu comentário???


Por vezes, temos essa vontade....


Desaparecer...


Recomeçar noutro lugar....


Noutro mundo.....


Partilhar outras ideias, outras verdades....


Não muda o Vento....


As histórias ficam sempre gravadas na memória...


E há sempre a Saudade...


Nunca desaparece................

quarta-feira, julho 23, 2008

VALE A PENA

Vem Vento, Varre




Vem vento, varre


sonhos e mortos.


Vem vento, varre


medos e culpas.


Quer seja dia,


quer faça treva,


varre sem pena,


leva adiante




paz e sossego,


leva contigo


nocturnas preces,


presságios fúnebres,


pávidos rostos


só covardia.


Que fique apenas


ereto e duro


o tronco estreme


de raiz funda.


Leva a doçura,


se for preciso:


ao canto fundo


basta o que basta.


Vem vento, varre!





Adolfo Casais Monteiro




O meu comentário??




Culpa e medos....que o Vento os leve....




Desimpeça o caminho....




Para que se erga a cabeça e se deixe de sentir culpado....




Pela alegria com que brindamos a vida.....




Não, o Vento não deve varrer a doçura...




A alegria, o riso....




Deve ensinar como os preservar....




Pois culpa e medos....o mundo tem em demasia....




E há sempre alguém mesquinho que nos faz sentir culpados...




Por algo tão natural, tão necessário e que vale tanto a pena........


terça-feira, julho 22, 2008

QUEM SABE???

Navio




Tenho a carne dorida








Do pousar de umas aves








Que não sei de onde são:








Só sei que gostam de vida








Picada em meu coração.








Quando vêm,vêm suaves;








Partindo,tão gordas vão!








Como eu gosto de estar








Aqui na minha janela








A dar miolos às aves!








Ponho-me a olhar para o mar:








-Olha-me um navio sem rumo!








E,de vê-lo,dá-lho a vela,








Ou sejam meus cílios tristes:








A ave e a nave, em resumo,








Aqui, na minha janela.








Vitorino Némesio






O meu comentário???




Despreocupada e alegre....




Devia ser...a vida....




Nem sempre...há uma tristeza encalhada tal como o navio....


Abandonado e triste...esquecido,


mas refúgio do tempo e das aves....


Livres e alegres....


Ou não..........


Quem sabe que histórias contam ao soltar gritos tão estridentes?


Quem sabe se não cortam as asas nas correntes do vento?


Procuram a nossa companhia, pois nos sentem tão sós como elas???





segunda-feira, julho 21, 2008

VERSOS E MUNDO

Nomeio o Mundo






Com medo de o perder nomeio o mundo,
Seus quantos e qualidades, seus objectos,
E assim durmo sonoro no profundo
Poço de astros anónimos e quietos.

Nomeei as coisas e fiquei contente:
Prendi a frase ao texto do universo.
Quem escuta ao meu peito ainda lá sente,
Em cada pausa e pulsação, um verso.










Vitorino Nemésio




O meu comentário??'




Em cada verso, uma paixão...




Em cada palavra, um desejo...




Ardente de falar....




Soltar o coração.....




Envaidecer as estrelas e os planetas.....




Porque as palavras jorram com sentido....




Há alegria......




Que o mundo, por vezes, esquece, mas existe......