PÃO
vais ver
há-de romper uma noite
em que nem seremos capazes
de reconhecer a nossa própria voz
perguntando pelo nome
que fugiu da nossa boca
e ao estendermos as mãos
sobre a toalha da mesa do jantar
será apenas o cheiro do pão quente
a ficar remotamente entre os dedos
e uma jarra sem flores a tentar decifrar
a ausência de quem nos amava
e um choro a abandonar-nos naquele momento
em que o fim do verão nos explicava tudo.
de Alice Vieira
O meu comentário???
O "tudo" que passou a ser "nada"...
Um "nada" sem voz,
um "nada" ausente...
O fim do verão é o fim da distância...
Esse distância que não se explica....
Porque já se amou
e não se volta a amar assim...
Aquela será a última conversa...
Naquela mesa, com aquela toalha
que ficará esquecida,
na gaveta,
rejeitada,
culpada por ter ainda o cheiro do pão entranhado...
Comentários
Beijo ( gosto mesmo, mesmo do que fazes aqui!!!)
gosto desse teu jeito de escrever.
maurizio
Quem fez parte da
nossa história
nunca partirá de nós.
Para onde formos,
sentiremos os cheiros,
os sabores,
as lembranças...
Impossíveis de serem esquecidas,
enquanto em nós
habitar esta chama
denominada vida.
Que haja em ti sempre sonhos
por sonhar.
Dos dois lado, talvez pensamentos sentidos das ausências. Ambos tem palavras que o expressam bem.
Beijos