IMPESSOAIS
A minha casa é concha. Como os bichos
Segreguei-a de mim com paciência:
Fechada de marés, sonhos e lixos,
O horto e os muros só de areia e ausência.
Minha casa sou eu e os meus caprichos.
O orgulho carregado de inocência
Se às vezes dá uma varanda, vence-o
O sal que os santos esboroou nos nichos.
E telhosada de vidro, e escadarias
Frágeis, cobertas de hera, oh bronze falso!
Lareira aberta pelo vento, salas frias.
A minha casa...Mas é outra a história:
Sou eu ao vento e à chuva, aqui descalço,
Sentado numa pedra de memória
de Vitorino Nemésio "A Concha"
O meu comentário???
Nunca devemos fechar a casa aos sonhos...
Ás vezes, é tudo o que enche as salas vazias...
Não se acende a lareira,
porque desapareceu o prazer e o riso...
Há quem esteja orgulhosamente só;
para outros, é estar-se dolorosamente só...
Foge-se e abandona-se a casa
para se esquecer o silêncio ventoso...
O vento é sempre mais forte
quando estamos sozinhos...
Há dias em que não gosto
das memórias da casa...
E só quero som e luz....
Mesmo que impessoais....
Comentários
Fui lendo a "CONCHA" de Vitorino Nemémesio. Como neste caso. um desefio se me põe sempre: a Marta consegue "agarrar" o poema?
Mais uma vez digo; afirmativo!
Beijos
"Minha casa sou eu e os meus caprichos"
Tens dias em que não gostas das memórias da casa... Precisas de luz... Mas a luz está dentro de ti...
Um beijo grande, Marta.