DESAFIO SETEMBRO

 

A QUEM ENCONTRAR ESTA CARTA,

não importa quem ou quando, leiam-na.
Sou louca por pedir isso, mas há anos que vivo num Mundo paralelo, em que o nome e o tempo não contam.
Escrever é uma boa terapia e é mais fácil viver nas minhas histórias do que contemplar as paredes brancas do hospital.
Ás vezes, vou até ao jardim, mas a enfermeira vem sempre comigo e eu aborreço-me com a sua presença controladora.
Há quantos anos estou cá? Não sei... 
Porquê? Também já não me lembro; sei que tive um marido e uma filha e que um dia deixaram-me aqui. 
Sem qualquer explicação...
A minha doença é um nome complicado que nunca fixei e com os anos, tornou-se tão parte de mim que não sei onde está o “eu” pessoa e o “eu” doente.
E é o que eu procuro – a minha identidade como pessoa. 
Aqui sou um número, uma cama na enfermaria, um lugar na fila para o refeitório.
Por isso, é que peço que leiam a carta e me ajudem a saber quem fui.
Onde nasci, onde vivi e o que aconteceu para me prenderem aqui.
Leiam também as minhas histórias, vejam os meus desenhos; talvez encontrem alguma pista...
E mostrem-me o Mundo... 
Contem-me como é o Mundo lá fora...

Texto escrito em Setembro de 2014 e publicado na Colectânea "Cartas" organizada pela Editora "Lua de Marfim"

O desafio é simples:

Tal como pedido, falem sobre o Mundo, contem como é o Mundo num pequeno poema, num pequeno texto...

Sejam loucos, sejam mais que um nº , sejam pessoas....

Boa Sorte...

Comentários

Desejo a maior felicidade e votos de bons trabalhos literários a quem participar.
.
Cumprimentos cordiais
.
Pensamentos e Devaneios Poéticos
.
chica disse…
Linda carta,Marta! Adorei a proposta da vez...
Mostrei na minha apenas UM detalhe do mundo...

https://duascabecase.blogspot.com/2021/09/conselho.html


beijos, chica
Roselia Bezerra disse…
Bom dia de paz, querida amiga Marta!
Você é uma pessoa muito profunda pelo que escreve e nos instiga a escrever.
Agradeço a oportunidade de pôr no papel o que estou sentindo.
Sua carta é o final de muitos e, por incrível que pareça, não de pessoas ruins, absolutamente.
Visitar doentes no hospital é um trabalho pastoral que muito me agradou fazer.
Têm histórias tristes demais por trás de um leito de hospital.
Estou emocionada ao ler sua carta.
Deus lhe abençoe muito pelo dom bem polido.
Deixo-lhe a minha, com carinho e gratidão:
https://perolasespirituais3.blogspot.com/2021/09/minha-ultima-carta.html
Tenha dias abençoados!
Beijinhos com estima e gratidão.
Boa tarde, Marta!
Parabéns pelo desafio. Achei ótimo. Se puder, participarei.
A meu ver, o mundo é mundo tanto fora como dentro de um hospital. E tudo está em estreita conexão com o dinheiro e com os valores pessoais de cada um. Para quem está há tempos internado num hospital e até perdeu o rumo da vida, acho melhor falar sobre o brilho do sol, o céu azul, o canto dos pássaros e as flores desabrochando aqui e ali. No mais, é melhor silenciar, que é pra não atordoar ainda mais a pessoa que já se encontra numa situação de extrema vulnerabilidade.
Bjs. Marli -
O Livro da Vida
Verena disse…
Emocionante a sua carta, Marta
Gostei imenso de participar mais uma vez.
http://meusanjosadorados.blogspot.com/2021/09/cliquem-pra-ler-carta-da-marta.html
Um carinhoso abraço.
Verena.
A tua compreensível insanidade

Compreendo a firmeza
da tua insanidade,
compreendo que seja difícil
suportar a realidade
para ti as coisas são outras coisas
e não tens dúvidas sobre isso.
Compreendo que a língua
em que falas agora
seja a tua própria língua
que eu não compreendo.
Em tudo o que dizes
há o queixume da injustiça
e o terror do mundo inteiro
que te persegue.
Compreendo que por muito
que chamemos pelo teu nome
jamais acordarás
da tua firme insanidade
que compreendo.

Cuida que não se fechem
as tuas pálpebras,
terás direito a uma rosa eterna
só para ti.

Publicado em 25 de Setembro de 2021
Não pude deixar mais cedo o meu desafio! Fiz-lo da melhor forma possível! :)
.
Mundo catastrófico... [desafio- Marta Vinhais]🌏
.
Beijos, e uma boa noite :)
Também repesquei a minha participação nessa colectânea, obrigado pela lembrança. Retrata um bocado do meu mundo, e não só:

"Escrevo-me. Com esta minha carta espero encontrar-me bem, embora sinta que, ao desfiar-me nestas linhas em forma de palavras escritas, não será permanente a tinta que nelas deposito. E isto porque leio nas entrelinhas daquilo que não escrevo, os silêncios elucidativos. Posso mesmo dizer-me que tento demarcar-me desses silêncios, mas nem sempre o consigo. Ainda assim, escrevo-me! Escrevo-me num papel amarrotado para estar em consonância com as sílabas que não rimam…

Confesso-me que quis parar o tempo! Mas o tempo soa sempre a pouco… Tempo! Ainda me disse que os ponteiros passam muitas vezes no mesmo sítio, mas nunca apontam nada de novo. Ainda tentei argumentar-me que as ondas também se desenrolam pela areia, mas acabam por recolher sempre ao mar…

Esta carta que me escrevo, não é mais que a carta que gostaria de dedicar ao vento, pois é ao vento que muitas vezes contamos histórias, umas vezes com contornos de brisas, outras vezes, de ciclones.

Escrevo-me! Escrevo-me esta carta e nesta carta, como se o movimento do mundo estivesse dependente daquilo que escrevo! Descubro, depois, que não está: o mundo segue o seu giro, ignorando o que escrevo e mais ainda o que penso… E que me escrevo!

Acho que o mundo anda do avesso. Já me disse isso a mim, quantas vezes em cartas sem destinatários… Mas mais grave que haver cartas sem destinatários, são as cartas sem remetentes. É por isso que me escrevo! Para que haja pelo menos um remetente, nem que o destinatário seja o próprio.

Escrevo-me! Escrevo-me nas cartas da Vida, onde as linhas pautadas pouco têm de paralelas. É como se as certezas não fossem mais que dúvidas. Mas, as leituras também induzem dúvidas e quantas vezes ao pensar que me escrevo, não estou a fazer mais do que ler-me.

A escrita e a leitura confundem-se quando nos escrevemos… Quando nos escrevemos a nós próprios! Sei que há um tempo e um espaço para tudo. Já m’o disse e reafirmei! Há até um tempo para desatar os nós da alma que as escritas foram apertando sempre que se tentam respirar memórias.

Continuo a escrever-me nestas linhas que mais não são que uma folha de carta, daquelas cartas que já ninguém escreve, porque a escrita deixou de fazer parte do pensamento. Mas eu escrevo-me, e enquanto me conseguir escrever, continuarei a enviar cartas para destinatários que nunca foram remetentes!"
Toninho disse…
Boa semana Marta.
Somente hoje venho com a carta amiga.
Que tudo de bom aconteça neste outubro.
Beijo e paz amiga.

https://mineirinho-passaredo.blogspot.com/2021/10/carta-ao-amigo.html

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