ABERTURA COMPLETA
Poema do Homem Só
Sós,
irremediavelmente sós,
como um astro perdido que arrefece.
Todos passam por nós
e ninguém nos conhece.
Os que passam e os que ficam.
Todos se desconhecem.
Os astros nada explicam:
Arrefecem
Nesta envolvente solidão compacta,
quer se grite ou não se grite,
nenhum dar-se de outro se refracta,
nehum ser nós se transmite.
Quem sente o meu sentimento
sou eu só, e mais ninguém.
Quem sofre o meu sofrimento
sou eu só, e mais ninguém.
Quem estremece este meu estremecimento
sou eu só, e mais ninguém.
Dão-se os lábios, dão-se os braços
dão-se os olhos, dão-se os dedos,
bocetas de mil segredos
dão-se em pasmados compassos;
dão-se as noites, e dão-se os dias,
dão-se aflitivas esmolas,
abrem-se e dão-se as corolas
breves das carnes macias;
dão-se os nervos, dá-se a vida,
dá-se o sangue gota a gota,
como uma braçada rota
dá-se tudo e nada fica.
Mas este íntimo secreto
que no silêncio concreto,
este oferecer-se de dentro
num esgotamento completo,
este ser-se sem disfarçe,
virgem de mal e de bem,
este dar-se, este entregar-se,
descobrir-se, e desflorar-se,
é nosso de mais ninguém.
António Gedeão
O meu comentário???
Permanece intacto....
Esse sentimento de que falta qualquer coisa....
Nada nos completa....
A sensibilidade extrema....
....um calcanhar de Aquiles....
............mas a abertura completa da alma....
Uma solidão inexplicável....mas real....
Todos os sentimentos expostos num olhar....
Num poema....num abraço....
Inteiramente nosso.....
Comentários
Belo!
Falta qualquer coisa... nada nos completa... abertura da alma (fragilidade...?), tudo num olhar...
O poema do Gedeão nem comento... digo só quem me dera escrever assim...
Beijinhos cara amiga
António Gedeão é um referência, escolheste bem.
E também achei o teu comentário réplica interessante.
Daniel
Beijinho *