RESPIRAR PROFUNDAMENTE

Meu País de Marinheiros

de António Nobre


Georges! anda ver meu país de Marinheiros,

O meu país das naus, de esquadras e de frotas!


Oh as lanchas dos poveiros

A saírem a barra, entre ondas de gaivotas!

Que estranho é!

Fincam o remo na água, até que o remo torça,


À espera de maré,

Que não tarda aí, avista-se lá fora!

E quando a onda vem, fincando-a com toda a forca,

Clamam todas à urra: «Agora! agora! agora!»


E, a pouco e pouco, as lanchas vão saindo

(Às vezes, sabe Deus, para não mais entrar...)

Que vista admirável!

Que lindo! Que lindo!

Içam a vela, quando já têm mar:

Dá-lhes o Vento e todas, à porfia,


Lá vão soberbas, sob um céu sem manchas,

Rosário de velas, que o vento desfia,

A rezar, a rezar a Ladainha das Lanchas:


Senhora Nagonia! Olha acolá!

Que linda vai com seu erro de ortografia...

Quem me dera ir lá!


Senhora Daguarda!

(Ao leme vai o Mestre Zé da Leonor)

Parece uma gaivota: aponta-lhe a espingarda

O caçador!


Senhora d'ajuda!

Ora pro nobis!


Caluda! Semos probes!

Senhor dos ramos

Istrela do mar!

Cá bamos!


Parecem Nossa Senhora, a andar.


Senhora da Luz!

Parece o Farol...

Maim de Jesus!

É tal e qual ela, se lhe dá o sol!


Senhor dos Passos!

Sinhora da Ora!


Águias a voar, pelo mar dentro dos espaços

Parecem ermidas caiadas por fora...


Senhor dos Navegantes!

Senhor de Matosinhos!


Os mestres ainda são os mesmos dantes -


Lá vai o Bernardo da Silva do Mar,

A mailos quatro filhinhos,

Vasco da Gama, que andam a ensaiar...


Senhora dos aflitos!

Mártir São Sebastião!

Ouvi os nossos gritos!


Deus nos leve pela mão!

Bamos em paz!


O lanchas, Deus vos leve pela mão!

Ide em paz!


Ainda lá vejo o Zé da Clara, os Remelgados,

O Jeques, o Pardal, na Nam te perdes,

E das vagas, aos ritmos cadenciados,

As lanchas vão traçando, à flor das águas verdes,

«As armas e os varões assinalados...»


Lá sai a derradeira!

Ainda agarra as que vão na dianteira,..

Como ela corre! com que força o Vento a impele:

Vamos com Deus!


Lanchas, ide com Deus!

ide e voltai com Ele

Por esse mar de Cristo...

Adeus! adeus! adeus!


Poema enviado pela Ematejoca


O meu comentário???


Lá fico eu só...


Pouco me importa se sempre desbravamos o mar...


"se edificaram

Novo Reino, que tanto sublimaram"


Como diz Camões...


Só quero que ele volte...


Peço a Deus...


Virei todos os dias a esta capelinha...


Aqui na praia....


Acenderei velas, rezarei o terço...


Cantarei nas procissões....


Falarei com Deus...


Só vou respirar profundamente...


Quando ele regressar....

Comentários

F'Oliveira disse…
meu deus , quanta beleza *.*

Beijo
Querida Marta, belíssimo ppoema e comentário... Um grande abraço de carinho,
Fernandinha
Sempre muita beleza neste sítio encantador !

Desejo-te um ANO de 2009 repleto de novidades, de surpresas, de inspiração, de carinho, de felicidade e de saúde !

Beijinhos verdinhos
Entre "linhas" disse…
Os poemas são verdadeiras obras de arte,mas a forma como os transpões através dos teus comentários excede qualquer expectativa.
Amiguinha um Feliz Ano Novo para ti,cheio de paz,saúde e muito amor.
Bjs Zita
Olá...Marta...Belo poema...Excelente comentário...
Beijos
Á flor da pele disse…
Apesar de gostar sp dos textos que escolhes o que me encanta mesmo são os teus comentários...
Continuação de boas festas
ematejoca disse…
A Marta respirou profundamente. Foi necessário para uma poema destes... e o comentário saíu à altura do poema. Adorei!

O Prémio Dardos é teu, Marta! Mereces! Vai buscá-lo ao meu blogue. Espero que aceites e gostes.
A ideia deste desafio foi óptima e os teus comentários sao um encanto.

BOAS FESTAS!

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