MUROS

FANTASMAS
Mesmo que vós me toqueis,
ainda assim me não contento.
Mesmo que vós me leveis...
Estão muito longe os anéis
que há nos cabelos do vento...

Para nossos bailes de fumo
não há saletas reais.
Corpos de fio de prumo,
olhos de barco sem rumo,
e ouvidos nos temporais.

Quando a casa dorme e sonha
é que os passos vem espreitar.
Da torre negra, as cegonhas,
sobre a planície que sonha,
deitam fantasmas ao mar.

Minhas claras companhias!
Ainda assim me não contento.
Há-de haver praias vazias,
melancolias bravias
como aquelas que eu invento.

Tudo em mim é fracasso
já não tem raiz humana.
Nas pontas do mesmo laço
É que o aço nos irmana.

Convosco em pó me desato
e a viagem não termina.
Parto de mim em retrato,
no movimento sem acto
que o destino me destina.

(Natércia Freire – 1920 – 2004)
(enviado por Álvaro Lins)

O meu comentário????
Procuro....
Respostas no vazio....
Não sei como o preencher....
Porque ouso desafiar o destino...
Não falo de fama ou de glória....
Nem mesmo de felicidade...
Será rever-me nesse retrato....
Sonhar-me....
Inteiramente,
na minha própria voz....
Sem fantasmas do passado
ou do presente....
Que me falem de fracassos....
Há, apenas muros a derrubar.....

Comentários

Álvaro Lins disse…
Por vezes os muros somos nós próprios a construí-los!
Excelente, como sempre.
Paixão Lima disse…
«Há, apenas muros a derrubar...»
Mas por cada muro que se derruba, outro se ergue.
há muros e muros, por vezes temos mesmo de os derrubar.

uma boa semana!

beij
Daniel Costa disse…
Marta

Num verso de poetisa Natèrcia Freire pode ler-se; "não me contento". Pois eu contei-me com a leitura. Depois achei bem a tua réplica.

Beijos
Querida amiga

E enquanto
tivermos forças
para derrubar
os muros,
viver valerá
à pena.

Que as estrelas
sempre brilhem em teu olhar.

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