SEM SONHAR
Não o Sonho
Talvez sejas a breve
recordação de um sonho
de que alguém (talvez tu) acordou
(não o sonho, mas a recordação dele),
um sonho parado de que restam
apenas imagens desfeitas, pressentimentos.
Também eu não me lembro,
também eu estou preso nos meus sentidos
sem poder sair. Se pudesses ouvir,
aqui dentro, o barulho que fazem os meus sentidos,
animais acossados e perdidos
tacteando! Os meus sentidos expulsaram-me de mim,
desamarraram-me de mim e agora
só me lembro pelo lado de fora.
Manuel António Pina, in "Atropelamento e Fuga"
O meu comentário???
E expulso de mim....
o que vejo e o que sinto???
Quem sou eu
e porque deixei de sonhar???
Não consigo olhar para dentro...
Para dentro de mim
e sei que o tempo parou algures....
Nesse dia em que deixei de te sonhar
e de te ouvir...
Deixei de me amar....
Não mergulho mais
na profundidade das coisas...
Da vida, de mim.....
Comentários
Como um caleidoscópio os sonhos sucedem-se consecutivamente ao mais leve movimento. A saudade de um sonho perdido não impede de voltar a sonhar.
Dizia assi (mais ou menos) o Fernando Pessoa.
Excelente!
Bjo
A vida acaba por ser sempre sonho, nas sua várias facetas. No primeiro poema, parece-me vislumbra um acontecimento ocorrido. O segundo, o teu irá noutro sentido, numa interpretação possível com sentido.
beijos