ESCURIDÃO

O Amor Tudo Mata quando Morre

Eu morro dia a dia, sabendo-o, sentindo-o,
com a morte do amor em mim.
Esvaiu-se, ensandeceu, partiu,
espécie de sol sepultado por mãos ímpias,
numa cratera de lua, algures,
ou na tristeza de um retrato emudecido
pela ausência de vozes em redor.
Sem ele, a casa ficou deserta
de risos, acenos e afectos, de tudo,
as mãos ficaram ásperas, secas,
a pele do rosto gretada, fria,
e o sangue tornou-se lento e espesso,
incapaz de dar vida às pequenas folhas
orvalhadas da imaginação das noites.
A erva cresce em redor de mim,
os limões ficaram ressequidos sobre
a toalha bordada, num canto da mesa.
O amor tudo mata quando morre,
detendo no seu movimento elementar,
a máquina que ilumina o coração do dia.

José Jorge Letria, in "Quem com Ferro Ama"

O meu comentário???
Porque não te tenho...
Já não existo em ti...
As noites são apenas isso:
o acabar do dia...
O acabar de sonhos
e de afagos reais...
Desejos concretos
e beijos sem fim....
Fico sem vontade de falar,
ou mesmo de ouvir...
Perdi a vontade,
a certeza do que tinha....
Fiquei só, sem o calor do Sol....
Mesmo na escuridão da noite....

Comentários

Sandra Subtil disse…
Maravilhoso Marta!
Torno-me repetitiva, mas adoro os teus comentários e o tipo de trabalho que fazes aqui, com alma, com coração, com AMOR.
Beijinho
Álvaro Lins disse…
Outro poeta que gosto1 E relativamente ao comentário, faço minhas as palavras da Sandra.
Abraço
Paixão Lima disse…
Comentário bonito, mas triste. Uma vida sem amor é uma vida sem sentido. Há que dar sentido à vida que nos é dado viver. Mas como?!
Inventa-se o amor? A um poeta tudo é possível.
Daniel Costa disse…
Marta

A um canto profundo, parecendo de momentâneo desânimo, coisas de poeta!...
No teu tom poético, enfatisas usando também profundidade.
Beijos
Graça Pires disse…
Gosto muito da poesia do José Jorge Letria. Este livro faz parte da minha estante de poesia.
Gostei muito do teu comentário em sintonia com o poema "Porque não te tenho... Já não existo em ti...
Muito belo.
Um beijo, Marta.

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