NADA

A Sofreguidão de um Instante

Tudo renegarei menos o afecto,
e trago um ceptro e uma coroa,
o primeiro de ferro, a segunda de urze,
para ser o rei efémero
desse amor único e breve
que se dilui em partidas
e se fragmenta em perguntas
iguais às das amantes
que a claridade atordoa e converte.
Deixa-me reinar em ti
o tempo apenas de um relâmpago
a incendiar a erva seca dos cumes.
E se tiver que montar guarda,
que seja em redor do teu sono,
num êxtase de lábios sobre a relva,
num delírio de beijos sobre o ventre,
num assombro de dedos sob a roupa.
Eu estava morto e não sabia, sabes,
que há um tempo dentro deste tempo
para renascermos com os corais
e sermos eternos na sofreguidão de um instante.
José Jorge Letria, in "Variantes do Oiro"

O meu comentário???
Sei como é banal
afirmar-se isso...
Um instante,
uma eternidade....
Sei como o tempo
escorrega por entre os dedos...
E como há perguntas
que não devem ser feitas...
Para que não apaguem
depois memórias felizes...
Para que se possa,
efectivamente,
renascer
quando nos sentimos vazios...
De afectos,
de nós próprios...
Ou de nada....



Comentários

Álvaro Lins disse…
Quando há momentos desses, lemos poesia e se for comentada como tu a comentas!:)
Abraço
Paixão Lima disse…
«renascer quando nos sentimos vazios...» É uma particularidade genuína do ser humano. Quando nos sentimos ocos, procuramos algo para preencher o vazio. Nunca desistimos.
Anónimo disse…
Apesar de tudo, desejamos intensamente o instante e a eternidade e afeiçoa-mo-nos tanto >à quimera do compromisso de ambos...

Bjs

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