CARTA AO MUNDO
A
QUEM ENCONTRAR ESTA CARTA,
não
importa quem ou quando, leiam-na.
Sou
louca por pedir isso, mas há anos que vivo num Mundo paralelo, em
que o nome e o tempo não contam.
Escrever
é uma boa terapia e é mais fácil viver nas minhas histórias do
que contemplar as paredes brancas do hospital.
Ás
vezes, vou até ao jardim, mas a enfermeira vem sempre comigo e eu
aborreço-me com a sua presença controladora.
Há
quantos anos estou cá? Não sei... Porquê? Também já não me
lembro; sei que tive um marido e uma filha e que um dia deixaram-me
aqui. Sem qualquer explicação...
A
minha doença é um nome complicado que nunca fixei e com os anos,
tornou-se tão parte de mim que não sei onde está o “eu” pessoa
e o “eu” doente.
E
é o que eu procuro – a minha identidade como pessoa. Aqui sou um
número, uma cama na enfermaria, um lugar na fila para o refeitório.
Por
isso, é que peço que leiam a carta e me ajudem a saber quem fui.
Onde
nasci, onde vivi e o que aconteceu para me prenderem aqui.
Leiam
também as minhas histórias, vejam os meus desenhos; talvez
encontrem alguma pista...
E
mostrem-me o Mundo... Contem-me como é o Mundo lá fora...
TELA
DE LIU YARNING
Publicado na Colectânea "Cartas" organizada pela Editora "Lua de Marfim"
em Março 2014
Comentários
Um carta que só uma alma poética e muito sensível poderá ter escrito!
O mundo cá fora anda cada vez mais virado do avesso e com menos coisas interessantes para mostrar, principalmente no que respeita aos valores!
Um beijinho,
Ailime
Pelo menos na atualidade.
Beijos
carta verdadeira ou fantasia do eu poético?
beijinhos
E consegues tocar quem a lê.
Gostei imenso.
Tem um bom fim de semana, querida amiga Marta.
Beijo.