CONFISSÕES


Confesso que não sei o que confessar...

Talvez a culpa seja um pecado, mas não tenho coragem de perguntar.
Porque estou cansada, triste demais para falar da minha alma doente.
Talvez isto seja desistir; talvez seja esse o meu pecado, mas eu tentei...
Tropecei na desilusão, magoei-me com as mentiras, desiludi-me com o tempo e quando gritei porquê, encontrei o vazio.

Confesso que nem sempre perdoo.
Não gosto de olhares falsos ou sorrisos bajuladores.
Ou palavras traiçoeiras...
E, às vezes, peço apenas silêncio para me sentir. Para fechar os olhos e divagar algures, longe daqui, destas confissões que só eu escuto.

Não falo de pecados mortais.
Confesso erros que me humilharam, mas que se tornaram numa lição valiosa.
E se fui vaidosa, se voei até ao topo do Mundo por um minuto... para quê negar de que gostei?

Gosto da noite, dos sons e dos cheiros. De música suave e de pés descalços.
Da brisa no Verão, de nuvens e de cor-de-rosa.
Não gosto do som da minha voz e de ter as mãos pequenas. De nem sempre sorrir...
Mas esqueço tudo quando fecho os olhos e amo as palavras com que agora me confesso.
Numa confissão que não é uma confissão, se o meu único pecado é gostar de estar viva
nestas palavras...

TELA DE ENNIO MONTARIELLO



Uma das respostas ao desafio/tema proposto 
pela Editora “Lua de Marfim” - “Confissões”

Comentários

Sofá Amarelo disse…
Confessar é estar vivo, atento, consciente, só se confessa quando há algo para dizer, quando algumas coisas ficam mal resolvidas e outras por dizer... não se deve confessar por confessar, mas há momentos em que apetece fechar os olhos, divagar algures e confessar... nem que seja a nós próprios :-)
Daniel Costa disse…
Marta

Este teu poema, é empolgante de sentido, prende e convida a reler, dá sentido à vida.
Feliz Ano de 2015!
Beijos
Agostinho disse…
Confissao, nao!
pecado nao houve.
Antes sera um estado de alma,
uma cancao de sons
arrumados com a ternura
de quem sente.
Ailime disse…
Boa noite Marta, uma confissão, um estado de alma que se transformou num belíssimo momento poético!
Que 2015 lhe seja favorável!
Um beijinho.
Ailime
Graça Pires disse…
Ao ler este seu belo poema, Marta, lembrei-me de Miguel Torga:
"Aqui, diante de mim,
Eu, pecador, me confesso
De ser assim como sou. [...]
Me confesso de ser eu.
Eu, tal e qual como vim
Para dizer que sou eu
Aqui, diante de mim!"
Um beijo.

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