NOUTRO LOCAL
Contam que as sombras permanencem agora mais tempo sobre
as dunas e que a flor de laranjeira rebentou pelos caminhos,
encantando as viagens; que os morangos crescem, se os dedos
se aproximam, e que já se ouve, ao longe um rumor de asas
contrário a qualquer vento. Falam de um perfume estranho
que paira pela cidade e pelas palavras soltas que os rapazes
andaram a escrever pelos muros em segredo. E eu não sei nada
disto que me contam, nem me aquece a luz quente que,
como dizem, afaga de manhã os ombros de quem passa e vai
a outro lugar sentir o mesmo lume. E eu também já não sinto
a primavera: os dedos doem-me nos livros, sento-me de noite
à janela. Olho a lua que já não posso ter. Escondo-me
dos gatos. Dispo-me e vou dormir lá fora com as aves.
De Maria do Rosário Pedreira (Livro "A Casa e o Cheiro dos Livros")
O meu comentário???
O que dizer, enfim?
Não sei se estou com pena de mim...
Se estou a deixar que a dor me arraste...
Me cegue e eu esteja inume ao que me rodeia...
Se não sinto nada...
Se nem o livro consigo ler e o deixo ao abandono...
Ou nem passeie com o Sol...
Talvez a resposta esteja no voo das aves...
E eu possa refazer os meus passos noutro local..
Talvez a luz do Sol lá seja diferente...
E as recordações não sejam tão intensas...
Aqui...
morrerei nas sombras....
Comentários
Cadinho RoCo
"Talvez a resposta esteja no voo das aves..." como dizes.
Um beijo.
FERNANDINHA
Um beijo meu e bom fim de semana