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HESITAR

Surdo, Subterrâneo Rio Surdo, subterrâneo rio de palavras me corre lento pelo corpo todo; amor sem margens onde a lua rompe e nimba de luar o próprio lodo. Correr do tempo ou só rumor do frio onde o amor se perde e a razão de amar --- surdo, subterrâneo, impiedoso rio, para onde vais, sem eu poder ficar? Eugénio de Andrade O meu comentário??? Talvez não seja o nosso tempo de amar... O rio sabe que margens deve desbravar para correr feliz.. Nós ainda hesitamos e o tempo passa, esquece-nos... Ficamos presos a tentar descobrir a razão de amar... Somos nós os surdos... Perdemos realmente o amor e o rio continua livre....

NOUTRO LOCAL

Contam que as sombras permanencem agora mais tempo sobre as dunas e que a flor de laranjeira rebentou pelos caminhos, encantando as viagens; que os morangos crescem, se os dedos se aproximam, e que já se ouve, ao longe um rumor de asas contrário a qualquer vento. Falam de um perfume estranho que paira pela cidade e pelas palavras soltas que os rapazes andaram a escrever pelos muros em segredo. E eu não sei nada disto que me contam, nem me aquece a luz quente que, como dizem, afaga de manhã os ombros de quem passa e vai a outro lugar sentir o mesmo lume. E eu também já não sinto a primavera: os dedos doem-me nos livros, sento-me de noite à janela. Olho a lua que já não posso ter. Escondo-me dos gatos. Dispo-me e vou dormir lá fora com as aves. De Maria do Rosário Pedreira (Livro "A Casa e o Cheiro dos Livros") O meu comentário??? O que dizer, enfim? Não sei se estou com pena de mim... Se estou a deixar que a dor me arraste... Me cegue e eu esteja inume ao que me rodeia... Se n...

AMAR TANTO

Há paredes escondidas no teu peito Há paredes escondidas no teu peito que se erguem, estremunhadas, cada vez que o riso dorme. Há um mar que se arpoa no teu leito, sem anzóis à pesca de recatos nos tapumes insulados em lençóis, cada vez que o sol inteiro se rende ao azul do teu sorriso. Com o perfume do teu mar, estou a pintar portas e janelas nas paredes que nos separam, para que o azul se liquefaça no sol do teu corpo despido de epílogos. De Nilson Barcelli (Blog NimbyPolis) O meu comentário??? E eu sinta o teu na luz do pôr-do-sol.. O meu reencontro contigo na magia de que o tempo tem inveja... Que essas portas e essas janelas sejam amplas... Para que o sonho deixe de estar escondido e o mergulho no mar seja perfeito... Nada nos pode separar nem o riso está adormecido... Quando nos amamos tanto....

TARDE

Abandono Suas palavras pintaram O fim das nossas tardes Vãos pensamentos náufragos Atropelaram As têmporas dilatadas Cavalgantes No riso do Vento A calvíce Soberba do Abandono Daniel Medina (Livro "Pela Geografia do Prazer) O meu comentário??? Fica o tempo.... Fica a solidão mais profunda... A que não se procurou... A que nos corta o ar e risca na parede... Os nomes, o coração com as iniciais, a palavra "Amo-te".. Porque, até isso, o Vento rouba... Como se alguém lhe tivesse dito para esvaziar as memórias... Lentamente....mas em breve, fica-se só com a tarde... Como alimento da alma....

INCERTEZA

Acordar Só por ti Abri os olhos da minha gruta Depois de te conhecer Como viver sem essa luz? Daniel Medina (Livro "Pela Geografia do Prazer") O meu comentário??? Acordo sempre a pensar em ti... Nem sempre tenho a certeza de que acordas a pensar em mim... Mas sinto-te... A porta, que esteve sempre fechada, está aberta... Só tu o sabes....e porquê.... Como me conquistaste.... Com doçura... Com tempo... A luz entra sempre... mesmo quando estou sozinha.. E apesar da incerteza..................

VELHO

Rendição Caem armaduras e espadas E rendo-me sem condições Quando imagino O teu regresso E o nosso velho abraço Daniel Medina (Livro "Pela Geografia do Prazer") O meu comentário??? Renova-se.. Tonifica-se... Não há condições ou promessas Há apenas um regresso.. O fim da espera... Que não fique pela imaginação... Seja palpável... Porque velho nunca é....

HISTÓRIAS SOBRE A VIDA

Meu Par O papel em branco que a tantos aterroiza q mim não dá medo; é meu companheiro nas andanças do dia-a-dia Carrego-o para todos os lugares e se alguma ideia me surge de surpresa ou me toma por inteiro recorro a ele - meu testemunho, calado de tudo o que penso desejo E não falo Maria do Carmo de Lima Bomfim (Carmo Bomfim) (II Antologia de Poetas Lusófonos) O meu comentário??? Também gosto de ter um bloco de notas, guardado na minha carteira Fica esquecido, por vezes e a folha em branco... Porque não tenho palavras.. Não me lembro nada para dizer - arrasto apenas os pés pelos dias.. Outras, a folha fica cheia de frases, palavras inacabadas... Atrapalhadas, atropeladas para que a ideia não escape.... Procuro um sítio calmo e reescrevo-as.... No meu desejo que não consigo calar.... Nessas muitas histórias sobre a vida...